Você pede carona para taxista?

Tempo de leitura: menos de 1 minuto

Ulisses Wehby de Carvalho

Assim como a grande maioria dos tradutores, estou farto de receber pedidos para fazer tradução de graça. Embora atue somente com tradução simultânea, não estou livre desse infortúnio. O folgado geralmente complementa com frases do tipo: “São só X páginas…”, “É para minha tese de mestrado e/ou doutorado…”, “Para você é fácil…”, “Quebra esse galho porque estou sem grana…” ou qualquer outra justificativa absurda. De agora em diante, tradutores do mundo, uni-vos! Respondam ao pedido insólito com a singela pergunta: “Você pede carona para taxista?”. Se você não tem cara-de-pau de pedir carona para taxista, por que você pediria para um tradutor profissional fazer tradução de graça?

Cf. Como dizer “carona” e “pegar carona” em inglês?
Cf. Como se diz “folgado” em inglês?

caronaHá uma frase atribuída a Cacilda Becker que pode ser também uma excelente resposta: “Não me peça para dar de graça a única coisa que tenho para vender.”.

Reza a lenda que a esposa de Ruy Barbosa, cansada de ver seu marido trabalhar de graça, perguntava àqueles que o procuravam se haviam acertado um preço pelo serviço. Como sempre ouvia uma resposta negativa, ela pedia para o “cliente” voltar e combinar com o “Águia de Haia” uma remuneração justa. Para justificar a “indelicadeza” dava uma indireta:  “O Conselheiro come…”.

Em uma série de crônicas, o João Ubaldo Ribeiro conta essa história e aproveita para também reclamar da quantidade de trabalho gratuito que se espera dele. São convites para ser jurado em concursos literários e inúmeros pedidos para escrever resenhas de lançamentos. Tudo, é claro, “na faixa”. A frase célebre “O Conselheiro come…” também dá nome a um dos livros de João Ubaldo.

Cf. Gramática: Série
Cf. Como traduzir “STORY”?

Não deixe de ler o texto “Sem noção“, do blog do Emílio Pacheco, porque ele explica muito bem a diferença entre “folgado” e “sem noção”.

Não tenho a ilusão, é claro, de que esta humilde contribuição irá acabar com a malandragem no mundo. A intenção é apenas oferecer aos profissionais sérios e dedicados uma maneira prática de se livrar dessa situação incômoda e, infelizmente, bastante comum.

Cf. Dicas de site: Como pesquisar no Google
Cf. Pronúncia em Inglês – Como Achar
Cf. OneLook: O Google dos dicionários

Você tem alguma outra estratégia / resposta para quem pede para você trabalhar de graça? Eu e os leitores do Tecla SAP adoraríamos conhecer a sua experiência no assunto. Escreva nos comentários abaixo. Obrigado.

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Adriana Pereira Santos
Adriana Pereira Santos
10 anos atrás

Fantástico! rssss Também vou usar!

Ulisses Wehby de Carvalho
10 anos atrás

William, tudo bem?

Ótima sacada! Vou começar a usar também… Valeu!

Abraços

Alexandre Nagado
11 anos atrás

Bom, não vou nem entrar na questão do trabalho de graça, mas o mundo está lotado de gente que quer pagar moedinhas por um trabalho especializado. E cheio de gente que aceita moedinhas pra fazer o que gosta. Tem um post que escrevi sobre isso:

Trabalhando Por Moedinhas:
http://nagado.blogspot.com.br/2011/11/trabalhando-por-moedinhas.html

No mais, adorei seu texto e o blog. Virei mais vezes aqui.
Abraço!

Rebeca
Rebeca
11 anos atrás
Responder para  Alexandre Nagado

Uau, adorei os dois textos, e quando os vi pensei num amigo meu que desenha MUUUUUUUUUITO e a quem um monte de gente (e eu também, ué, não vou agora posar de santinha) pede desenho como se ele fosse uma copiadora. A gente esquece que a pessoa TRABALHA com isso, e às vezes eu pensava “ah, sou só eu, é só um desenho” mas se ele tiver umas trinta “eu” amigas dele, haja Hello Kitty Ninja pra um ser humano gastar seu tempo, seu talento, seu lápis e por aí vai pra receber um beijo e um abraço (pq a gente gosta de verdade, a gente adora e se emociona quando recebe desenho, mas só isso não paga, ninguém trabalha pelo sorriso dos outros, aliás, eu suponho que é porque sorriso não alimenta, sorriso não veste as pessoas, sorriso não paga as contas, sorriso não compra PS4 – talvez se fizesse tudo isso, ele seria rico e não se importaria – e todo mundo adoraria receber sorrisos)
Eu sou consciente mas incoerente como todo mundo que pensa em si primeiro. É injusto, quando você percebe que não é só você quem pede e como fica chato para a pessoa! Eu já até me arrependi e nem quero mais meu presente de aniversário que eu pedi…Me sinto errada agora…
E mais, fazer coisas de graça tb não ajuda. Entendi isso no seu texto, Alexandre. Fazer de graça ou baratinho não é justo nem com as outras pessoas do meio, que trabalham arduamente, nem consigo mesmo. Eu não cobro por nada que eu faço porque não me considero profissional, mas isso é errado, afinal, se a pessoa pediu algo que eu posso fazer, ela reconhece que eu faço e tem que dar algum valor nisso.
Uau, adorei esse texto, adorei essas visões que fazem mais do que sentido, e queria muito pedir mil desculpas ao meu amigo >.< Muito legal o post!

José Nascimento
José Nascimento
11 anos atrás

Eu recomendaria o blog do Di Vasca, que tem respostas bastante inspiradas pra esse tipo de solicitação: http://divasca.blogspot.com.br/

Thais Santos
Thais Santos
11 anos atrás

Eu sei bem como é isso, não sou tradutora ainda, mas meus colegas de classe estão sempre pedindo “favores” deste tipo. Há limites para tudo neh.

Luana
Luana
13 anos atrás

Carai!muito bom o seu blog
adorei,puta que pariu nunca vi um blog massa assim

Abraços!

Jones
Jones
13 anos atrás

Gostaria de parabenizar pelo belo trabalho que você está expondo nesse blog. Parece até que estamos na cultura do jeitinho, do caminho mais fácil, onde o trabalho é estafante e chato. Em vez de se dedicar, tentar aprender um novo idioma e adquirir uma habilidade afim de abrir a sua mente, fica no seu mundinho.

A favor da meritocracia, pois as oportunidades e as ferramentas estão aos montes nessa era da infirmação ágil.

Marta Lemes
Marta Lemes
13 anos atrás

Ulisses bom dia!

Venho agradecer em meu nome e em nome dos demais leitores do
Tecla Sap.

Somos agraciados todos os dias através de seu empenho , gostaria de
expressar minha opinão sobre o assunto:
Faço minhas palavras dos dizeres Bíblicos
“Digno é o trabalhador do seu Salário”
Parabéns e obrigada por seu honroso trabalho! Lucas 10:7

I. Malforea
I. Malforea
13 anos atrás

Concordo com tudo. E digo o mesmo para a profissão de músico, que sequer consideram ser uma profissão.

Marcos Albuquerque
13 anos atrás

Este comentario e a respeito do post “Seria troll?”:

Ola Ulisses,

Sou assinante do seu blog ha um bom tempo e tenho que parabeniza-lo pelo seu trabalho. Ha principio suas palavras paressem meio rude, “in another hand” alguns leitores extrapolam com seus pedidos sem logica, o que pode ate pode ser inocencia. Bom, sao somente comentarios que tenho que concordar contigo.

Sucesso e obrigado pelo seu tempo dedicado em manter este blog tao rico em informacoes.

Abracos,

Sisa
Sisa
13 anos atrás

Não sou da sua área, mas lendo este texto (que foi linkado no twitter) lembrei de um episódio de quando estava no doutorado. Fazia estágio obrigatório DE GRAÇA em uma faculdade particular, já que meu Instituto não oferecia graduação. Acompanhava um professor nas aulas, dava reforço, tirava dúvidas. Um dia um aluno me perguntou se eu poderia dar aula particular pra ele e 2 amigos. Disse que sim, claro. Ele pediu no sábado à tarde, na casa dele. Passei meu preço, coerente com minha formação (quase doutora à época!). Até hoje lembro a cara de indignação dele perguntando MAS VOCÊ VAI TER CORAGEM DE ME COBRAR? Quando eu ri e disse que claro, ele disse “Pois assim eu não quero, você é muito ruim”.

Ivan
Ivan
13 anos atrás
Responder para  Sisa

Pode cogitar a possibilidade de segundas intenções nessa “aula particular” do cara e seus 2 amigos, achou ruim por cobrar. Já me fizeram pedido mesmo de aula particular, marido da minha chefe, quando começamos a falar de valores (já haviam me dito que o cara dava tchau de mão fechada) o cara mudou de assunto, então disse que tinha muitas outros compromissos e preferia indicar um amigo pra aula.
Sou do ramo de informática, acontece muito de aparecer de todos os cantos “amigos” pra pedir uma “olhadinha” no computador, uma “verificadazinha” pra tirar o vírus, só “um minutinho” pra ensinar algo que não entra na cabeça dele nem com um martelo, são parentes, são amigos que nunca ligam quando a gente faz aniversário ou quando precisamos de alguma ajuda. Então mando todos esses que querem serviços de graça se lascarem.

Doduti (Dani .Doduti.)
13 anos atrás

encaixa pra tantas áreasRT @teclasap: Você pede carona para taxista? http://tinyurl.com/knhtvy

Laa_Delgado (LARISSA)
13 anos atrás

RT @teclasap: Você pede carona para taxista? http://tinyurl.com/knhtvy

srtagildo (Camila Gildo )
13 anos atrás

RT @Doduti: encaixa pra tantas áreasRT @teclasap: Você pede carona para taxista? http://tinyurl.com/knhtvy

Eliane
Eliane
14 anos atrás

O Paulo já te pediu uma tradução na faixa, né?

Ivan
Ivan
13 anos atrás

kakkakak, ainda estou rindo do Paulo, do Pedro, do José, da Maria….será que ela reconheceu um amigo por aqui.

Nessa
14 anos atrás

de coisas parecidas sofrem os músicos.

Theo Amaral
14 anos atrás

Ótimo o texto, as dicas e a maneira descolada pra sair fora de gente que não nos respeita como profissionais.
Já perdi as contas do número de vezes que já passei por isso. Isso é muito frustrante!
Abraço.

Luiz Reis
Luiz Reis
14 anos atrás

Olá Ulisses, um abraço
Gostaria de pedir-lhe uma informação sobre onde posso frequentar um curso de tradução simultânea no Rio de Janeiro…
Já fiz alguns eventos e gostaria de me aperfeiçoar mais e mais, e um curso é sempre bom para aprender mais na profissão.
Aguardo uma resposta…
Obrigado
Luiz Reis