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Já escrevi em diversos posts aqui no Tecla SAP que o dia a dia dos intérpretes não tem tanto glamour como acreditam alguns. Em geral, fazemos tradução simultânea em congressos científicos, negociações, treinamentos técnicos etc. em que não vemos uma aplicação prática que beneficie diretamente a sociedade como um todo. É evidente que há exceções, como em “Tradução Simultânea e a Segurança” e “Tradução simultânea em aldeia indígena“, por exemplo. Por uma ou outra razão, às vezes um evento dá mais satisfação pessoal e profissional do que os outros. É natural.
Em 2008, fiz um desses trabalhos que a gente não esquece. Era uma convenção na Bahia, organizada por uma seguradora. Dois dos convidados eram bombeiros. Um deles, um americano, que havia trabalhado no WTC em 11 de setembro de 2001, e o outro era o Cel. Martins, do Corpo de Bombeiros de São Paulo, que havia atuado no acidente do voo da TAM em Congonhas no ano anterior.
Cf. O microfone gooseneck e a tradução simultânea
Foram dois relatos comoventes de dois heróis de verdade. Eu me lembro de ter de fazer uma força sobre-humana para controlar as minhas emoções e transmitir as informações com fidelidade a um auditório com quase duas mil pessoas. Eu me lembro de pensar que o meu esforço naquele momento não era nada perto do que aqueles dois homens tinham feito por tanta gente. Sem comparações, é claro, saí de lá com uma enorme sensação de dever cumprido porque segurei a onda até o final. Na despedida, disse ao Cel. Martins que esperava revê-lo, mas em outra palestra ou curso, jamais em uma ocorrência. Ele sorriu e disse: “Claro, claro!”.
Na semana passada, em mais um trabalho extremamente gratificante em que fiz a tradução simultânea de um curso no Corpo de Bombeiros em São Paulo, tive a oportunidade de rever o Cel. Martins. Trocamos poucas palavras porque ele estava apenas de passagem, mas fiz menção ao que eu havia dito em 2008. Fiquei feliz por tê-lo reencontrado em um curso, como eu esperava. Tomara que o próximo encontro seja em uma pescaria, cerimônia de premiação ou qualquer outra coisa do gênero.
Cf. 9/11: Onde você estava?
Cf. Textos Mastigados
Cf. Discurso de Barack Obama no Rio de Janeiro
[…] Cf. Vida de intérprete: Traduzir heróis […]
Gostaria de lhe dar os parabéns pelo grande trabalho eu, como estudante da tradução e intéprete de língua de sinais tenho o seu trabalho como uma referência.
Imagino a carga de emoção que o Sr. recebeu neste trabalho com estes verdadeiros heróis da vida real.
Um grande abraço.
José Carlos,
É verdade, não foi fácil mesmo conter a emoção. Naquele dia eu segurei a onda, mas confesso que chorei bastante quando escrevi o texto deste post. Volte sempre!
Abraços a todos