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Volto a tocar no assunto porque o problema aconteceu mais uma vez. Já escrevi texto sobre a confusão frequente que é feita entre tradução simultânea profissional (também chamada de “interpretação de conferência” e “interpretação simultânea”) e as soluções capengas adotadas por algumas emissoras de TV. Já passou da hora de dirimirmos essa dúvida. No texto “Pseudo-Tradução Simultânea? O que é isso?“, trato do que aconteceu durante a transmissão da primeira coletiva de imprensa de Barack Obama.
Fiz hoje a tradução simultânea da transmissão do funeral de Michael Jackson pelo BandNews. Como sempre acontece em eventos dessa natureza, a repercussão é muito grande e a atividade ganha uma dimensão que vai muito além dos auditórios e das salas de reunião onde costumamos trabalhar.
Fico chateado quando leio críticas à tradução simultânea em geral, quando, na verdade, esses comentários negativos deveriam ser dirigidos exclusivamente a jornalistas que “viram” pseudo-intérpretes da noite para o dia. Seria mais ou menos como andar em uma Brasília 1979 e depois reclamar dizendo que carro alemão não presta! Não estou querendo dar uma de gostoso e me comparar a uma BMW ou a uma Mercedes. Tanto isso é verdade que estou dando a cara a tapa para receber críticas ao trabalho de hoje. É evidente que houve falhas e eventuais omissões, inerentes à profissão que abracei há mais de 15 anos. Quem acha que simultânea sai perfeitinha como se fosse uma tradução escrita, nunca pôs os pés em uma cabine. Perceber um errinho aqui e outro ali é moleza quando se está sentado confortavelmente na poltrona de casa. Outra coisa bem diferente é estar ali no calor do momento, sem roteiro, sem o texto do discurso em mãos, sem dicionários nem glossários.
Portanto, é mais do que natural acontecerem alguns deslizes, até mesmo na tradução feita por profissionais. Sair de um “tiroteio” contra 25 bandidos só com um arranhãozinho no rosto é coisa para Clint Eastwood.
Já pensou se um advogado “virasse” VJ na MTV ou se um engenheiro se metesse a apresentar telejornal na TV Globo? Não seria mais ou menos como jornalista fazer interpretação simultânea?
Cf. Discurso de Barack Obama no Rio de Janeiro
Abraços a todos
PS: Pelo que soube, além do BandNews, somente a Globo News contratou intérpretes profissionais.
EdMarrie, tudo bem?
Obrigado pelo comentário. Por favor, envie sua pergunta no Fórum Tecla SAP em https://www.teclasap.com.br/forum/ . Há uma área específica para tradução simultânea. Obrigado.
Abraços
Nada a ver o comentário crítico do Aristóteles acima. Cara, o Ulisses apenas fez uma comparação usando um objeto aleatório, não tem nada a ver incluir seu sentimentalismo pelo seu carro 1979. Sinceramente sua indignação pelo uso da metáfora não tem nenhum cabimento e não tem lugar aqui no contexto.
seu artigo esta muito bom. somente discordo desta parte:
“Seria mais ou menos como andar em uma Brasília 1979 e depois reclamar dizendo que carro alemão não presta!”
Ora meu caro amigo, não pode-se generalizar, tenho uma Brasilia, pertencente ao meu falecido pai, ano 1979. A mesma esta impecavel e anda circulando normamalmente, sempre bem tratada no aspecto lataria e motor.Assim como voce, existe pessoas que intitulam-se a dona da verdade e talvez voce seja uma delas que não valçori9zam as coisas de seu pais. e claro ela teve sua epoca, mas desempenhou seu papel. cuidado com as compárações ou ,metaforas.
O que você falou não faz sentido nenhum, Aristóteles..
Ulisses,
acabei de assistir a sua entrevista no Jo pelo youtube…muito divertido. Abraco
Larissa
Larissa,
Obrigado pelo comentário. Também gostei muito de ter dado a entrevista. Volte mais vezes.
Abraços a todos
Oi Ulysses,
meu nome é Larissa Benevides e sou solidaria a seu sentimento de repudia as criticas injustas feitas ao interprete simultaneo. Sou sua colega e trabalho com muita consciencia da minha falibilidade, embora eternamente comprometida a oferecer a melhor traducao para a audiencia, dentro do possivel. Tenho lido seu blog e tentarei contribuir no que puder para enriquecer ainda mais esse pitoresco espaco para uma boa conversa. Um grande abraco e boa sorte.
Larissa,
Obrigado pela solidariedade. Espero poder contar com as suas participações no futuro.
Abraços a todos
Ahh, que isso, difícil falar para os colegas na ATA!!!!!!!
Você tem muito CARISMA… é sempre muito divertido ouvir as suas palestras, sempre damos boas risadas contigo, além de aprendermos coisas bacanas…
E… corrigindo o meu erro lá em cima.. Looking forward to listenING to you at ATA….
Beijo
Patricia,
Obrigado pelo carinho. Espero te encontrar lá em NYC, então!
Abraços a todos
Ulisses: tenho uma grande amiga (SMurayama) que é intérprete, inclusive simultânea, e tradutora. Conheço a Sandra desde o colégio, portanto sei quanto ela é profissional, quanto se prepara para cada trabalho. Sempre digo a ela: jamais faria seu trabalho, para mim é como ser piloto de Fórmula 1, pois a adrenalina é grande sempre. Claro, que isso se você é um bom profissional, como no caso dela, e seu, acredito. Mas para quem está de fora, parece tudo fácil, que os enganos, erros podem perfeitamente ser evitados. Que engano. Sugiro a essas pessoas um exercício simples: com alguém falando em português mesmo, tento ir repetindo logo após o que a pessoa disse. Veja se consegue. Duvido! Imagine então em outra língua, muitas vezes sem receber material prévio, com gente improvisando, e às vezes mal – porque não é porque está em inglês, francês, etc., que foi bem dito, verbalizado. Há os "paraquedistas" e esses,sim, devem ser não só criticados para abolidos do cenário.
Miriam,
Tudo bem? Obrigado pelo depoimento. Também conheço a Sandra e já tive a oportunidade de trabalhar com ela em alguns eventos. Confirmo tudo o que você disse a respeito dela: profissional de uma competência ímpar.
Gostei da sugestão de exercício. Isso é o que a gente chama de "shadowing" e é mesmo uma prática inicial nos cursos de interpretação.
Abraços a todos
Olá, Olisses!
Bem-vindo ao sentimento que boa parte dos jornalistas está sentindo após a queda da obrigatoriedade do diploma na profissão.
Como jornalista, entendo perfeitamente e compartilho da sua frustração, mas acho que, neste caso que você citou, cabe o clichê “don’t hate the player, hate the game”: talvez o jornalista tenha sido designado pelo diretor do programa para fazer a tradução simultânea e não teve alternativa se não fazê-la, e foi a emissora que não quis contratar um profissional da área de tradução. Isso acontece direto na área jornalística – vide o crescente número de atores fazendo as vezes de repórter.
Voltando ao caso, acho que é muito melhor, tanto para o jornalista quando para a emissora, contratar um profissional da área de tradução para eventos deste tipo: a qualidade da tradução é melhor e corre-se menos risco de traduções falhas, o que ficaria mal tanto para o jornalista (que, afinal, pode não ter condições plenas de fazer a tradução, o que poderia até prejudicar sua carreira com críticas negativas) quanto para a emissora, que pode passar a ser vista como amadora ou de baixa qualidade.
O mundo é tão grande, tem espaço para tanta gente, por que não contratar os profissionais de cada área e, além de valorizá-los, valorizar também os serviços oferecidos para a população, não acha?!
No mais, parabéns e obrigada pelo blog!
Érica,
Tudo bem? Obrigado pelo interesse no Tecla SAP e pelo comentário. O sentimento que alguns jornalistas podem estar vivenciando por conta da queda da obrigatoriedade de diploma não se aplica ao caso em questão. Nunca houve exigência dessa natureza na minha profissão e não há como sentir a perda de algo que nunca se teve. Em momento algum no meu texto expresso descontentamento com os jornalistas que tentam fazer simultânea. Sabemos que são empregados e, provavelmente, obrigados a tentar desempenhar a função. Só não acho certo a minha classe receber críticas por erros que não cometeu. A batalha em prol do profissionalismo é lenta, longa e, provavelmente, interminável. Mas prefiro morrer lutando. Obrigado pela solidariedade de suas palavras.
Abraços a todos
Parabéns mais uma vez!!
Não pude ver o evento durante o dia, mas vi um resuomo à noite, acho que se eu tivese que interpretear aquilo ali teria que segurar as lágrimas , foi bem emocionante, hein..
Looking forward to listen to you at ATA..
Bjos
Pat
Patricia,
Obrigado pela força! É verdade, muitas vezes na simultânea é mais complicado controlar as emoções do que encontrar a solução ideal para uma palavra ou expressão. Quando digo "emoções", falo tanto das tristes quanto das alegres. Segurar o riso é uma das tarefas mais difíceis do mundo!
Falar para os colegas na ATA também não vai ser nada fácil… 😉
Abraços a todos
Ana,
Ah, agora entendi! Se for na TV, a gente pode divulgar sem problema, embora eu seja tímido… 😉
Abraços a todos
Hahaha… caramba, o trabalho de um profissional que se expõe ao público e é competente fica melhor ainda de se admirar quando ele/ela diz que é tímido!
Ana,
Era brincadeira… hehehe…
Abraços a todos
Ah sim, eu quis dizer na TV! Avisa no Twitter se der.
Abraço
Ulisses, saiba que tem também muita gente que admira o trabalho de tradução simultânea (eu sou uma). Ô mente rápida que vocês tem que ter!
Outro que admiro é legendagem – apesar de ver erros de vez em quando, acho incrível a tradução de expressões idiomáticas e piadas, especialmente quando fazem referência à cultura pop americana. Sabe? Aquilo que se fosse traduzido literalmente não faria sentido aqui.
Aliás, se eu soubesse que você faria a tradução do funeral do MJ eu até teria assistido – quais são seus próximos gigs?
Ana,
Obrigado pelo reconhecimento do trabalho. São raros os eventos públicos que fazemos, embora tenham obviamente um grau de exposição muito maior. Em sua maioria, os eventos são privados e não seria ético de minha parte ficar divulgando essas informações. Os congressos são, em geral, abertos ao público mas mediante pagamento de inscrição. Há também os encontros confidenciais de todos os tipos: negociações, reuniões de conselho, auditorias etc. Sem contar os treinamentos internos somente para funcionários da própria empresa organizadora.
Abraços a todos
Ulisses, você está certíssimo. É vergonhoso ouvir esses jornalistas que fazem o papel de um tradutor profissional que nem você. Eu ouví sua tradução e ao invés de ficar procurando pelo em ovo, eu sempre tento prestar atenção nas formas que você usa pra interpretar certas frases e deixá-las simples para o entendimento do público. Isso sim é um trabalho profissional. Te admiro muito. Você é 10! Abraços
Danilo Friolani
Danilo,
Obrigado pela força! É bom saber que há pessoas com essa mentalidade. Valeu!
Abraços a todos
De uma vez por todas, deve-se também fazer a distinção entre "tradução" e "interpretação". O que se ouve é interpretação; o que se escreve é tradução.
Assim como tradução é transpor um texto em inglês para o português e versão é transpor um texto em português para o inglês. Enfim, "cada um no seu quadrado" !
Sueli,
Tudo bem? Obrigado pelo interesse e pelo comentário. A distinção entre "tradução" e "interpretação" é, a meu ver, bem menos deletéria. Não me incomodo quando ouço dizerem "tradução simultânea" para descrever meu trabalho. Não há unanimidade nem mesmo entre os profissionais sobre a diferença entre "tradução" e "versão". Como se chamaria a tradução escrita do espanhol para francês feita por um tradutor inglês que mora no Brasil? Seria "tradução" ou "versão"?
Definições de nomenclatura dessa natureza não têm o poder de prejudicar a imagem das atividades de tradução (escrita) e a de interpretação simultânea. Quando alguns "curiosos" aparecem em mais de um canal de televisão fazendo um "troço" que milhões acham se tratar de simultânea, corre-se o risco de se achar que qualquer bilíngue dá conta do recado. Porcaria por porcaria, porque contratar alguém para o evento XYZ? A secretária que "fala" bem inglês ou o estagiário que morou X anos nos EUA "quebram o galho". O estrago é enorme e repará-lo é tarefa inglória, senão impossível.
Abraços a todos
Só quero deixar meu registro aqui em solidariedade a você Ulisses…
Paz
Henrique,
Obrigado pelo interesse e pelo apoio. Volte sempre!
Abraços a todos
Por isso que acho importante blogs como o seu, Ulisses. É importante que os profissionais da área se posicionem e difundam informação. O grande problema é a visão minimalista geral de que Tradução é algo menor. Assim como os jornalistas defendem a posição de obrigatoriedade de um diploma, devemos defender a posição de seriedade e critério na hora de desenvolver um trabalho tão específico e técnico como é o de uma tradução consecutiva.
Criticar algo que não se conhece é fácil, mas é apresentando outros lados das moedas é que construímos um conhecimento mais sólido e mais resistente aos achismos.
Abraço!
Ernesto,
Obrigado pelo comentário. Concordo plenamente com as suas palavras. Só uma observação: a modalidade adotada em transmissões ao vivo na TV é a "simultânea".
Abraços a todos