Tempo de leitura: 8 minutos
Estudar inglês by Ulisses Wehby de Carvalho
Estudar inglês? Por que estudar inglês?
Atitude: IT’S THE ATMOSPHERE!
Essa história se passou quando eu estava fazendo um curso de especialização em tradução simultânea em Washington em 1995. Como o programa tinha a duração de um mês, tive tempo para conhecer as muitas atrações da capital dos Estados Unidos. Foram várias visitas a museus, a sessões na Câmara e no Senado, clubes de jazz etc. Teve até aperto de mão em Bill Clinton, que como ex-aluno em campanha para sua reeleição, fora fazer uma visita ao reitor da Georgetown University, onde eu estava estudando durante aquele mês de julho. Radiante, voltei à sala de aula e contei para meus colegas. O professor, um republicano convicto, disse em tom de descaso: Have you disinfected? (Você já se desinfetou?). Que balde de água fria! Com desinfetante e tudo!
Muito bem, consciente de que para me aperfeiçoar na profissão eu teria que, entre muitas outras coisas, mergulhar na cultura americana, decidi assistir a uma partida de beisebol em Baltimore. Tomei um trem e, depois de mais ou menos uma hora, desembarquei ao lado do Camden Yards, o simpático estádio do Baltimore Orioles.
Você já deve estar se perguntando por que estou contando essa história. O que ela tem a ver com o aprendizado de inglês? Lamento, mas você terá que ler o texto até o fim para saber.
Na estação
Pois bem, ao sair pela plataforma, vi um deficiente visual que andava na minha frente em direção a um obstáculo. Alertei-o e ofereci ajuda para guiá-lo até a saída da estação. Ele agradeceu e colocou a mão direita sobre meu ombro. Para puxar conversa, me perguntou: Are you here for the game too? (Você veio por causa do jogo também?).
Confesso que minha primeira reação foi pensar que eu não havia entendido. Sabe como é, uma pergunta feita em idioma estrangeiro, com o barulho da rua e, ainda por cima, algo que aparentemente não faz sentido, deixa qualquer um meio atordoado. Resultado: não acreditei nos meus ouvidos. Toquei a fita de novo mentalmente e ouvi a mesma coisa: Are you here for the game too?. Constatei, portanto, que eu tinha entendido direito na primeira vez. Aquele deficiente visual tinha feito a mesma viagem para assistir ao jogo!
Respondi meio sem jeito: Yes! e ele emendou: Do you have a ticket? (Você tem ingresso?). Eu disse: No!. Ele: Well, I have an extra ticket… (Bom, tenho uma entrada sobrando…). Sou obrigado a admitir que, a princípio, meu instinto me dizia que aquilo poderia ser uma arapuca. E a minha neura tinha razão de ser. Afinal de contas, eu havia trabalhado muitos anos na 25 de Março (famosa rua no centro de São Paulo conhecida por seu comércio vibrante) e testemunhado vários golpes aplicados por vigaristas de todos os tipos. Batedores de carteira, trapaceiros especialistas no conto do vigário, no conto do bilhete premiado, até um cego de araque vendedor de bilhetes que ao atravessar a rua (sozinho!) apertava o passo quando o sinal ficava amarelo.
No entanto, refleti um pouco e cheguei à conclusão de que eu estava exagerando. Decidi, então, dar um voto de confiança ao meu novo amigo e comprei seu ingresso. Depois das apresentações formais, o Darren se ofereceu para me guiar até os nossos assentos, pois eu estava ali pela primeira vez e, é claro, iríamos nos sentar lado a lado. Ele me dizia: “Está vendo o portão número tal? Está vendo a placa tal, perto da torre de iluminação? É para lá que vamos.” Como eu não entendia as regras do jogo naquela época, mais uma vez, foi ele, com a ajuda de um rádio portátil, quem me ajudou a entender os lances da partida. Que ironia, não é mesmo? Eu enxergava tudo mas via muito pouco!
Depois de conversarmos bastante nos intervalos do jogo, minha curiosidade foi tão grande que acabei fazendo uma pergunta pra lá de indelicada. Depois de me desculpar pela grosseria que estava prestes a cometer, disparei: What is it that makes you come to the stadium? (O que te faz vir ao estádio?). Ele, sempre simpático e sem hesitar, respondeu:
- It’s the atmosphere, Ulisses! (É a atmosfera, Ulisses!)
Só então percebi que o verdadeiro motivo dele estava muito além de uma rebatida ou de um home-run. A razão era a paixão pelo esporte e por seu time do coração, o Chicago White Sox, adversário do Orioles naquele noite. Confesso que levei um tempo para entender por que o beisebol era merecedor de tamanha devoção. Se pelo menos fosse futebol…
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Investimento
Hoje, ao escrever este texto, percebo que fiz também algo incomum naquele verão. Com pouco mais de três anos de experiência em uma nova profissão, fiz um investimento enorme para as minhas possibilidades. Um curso de um mês no exterior é caríssimo, sem contar passagens, despesas de acomodação, alimentação, passeios etc. com o agravante de que nós, autônomos, interrompemos nossa renda quando viajamos. Além disso, depois de um dia intenso de estudos no laboratório da universidade, arrumei disposição para viajar e assistir a um jogo que eu, na época, acreditava ser só um bando de barrigudinhos de pijama correndo a esmo por um gramado. Por ironia do destino, oito anos depois, acabei escrevendo um livro relacionado ao tema (leia a resenha). Também escrevi um artigo sobre expressões esportivas na língua inglesa: THE BALL IS IN YOUR COURT: qual é o significado da expressão?.
É claro que não estou querendo comparar os dois “sacrifícios”, mesmo porque nem o Darren nem eu fomos forçados a viajar para Baltimore. Minha motivação era o interesse pela língua inglesa e pela tradução simultânea e, claro, o desejo de me desenvolver profissionalmente.
E eu com isso, Ulisses?
Já começou a perceber o que a minha história tem a ver com você? Espero que sim. Se você ainda não sabe qual é seu verdadeiro motivo para estudar inglês, vai ficar bem difícil encontrar a motivação necessária. Faça uma reflexão séria sobre o assunto e responda para si mesmo: “Por que quero aprender inglês?”. Se não encontrar uma resposta autêntica, desista agora. Dedique-se a outras atividades, não perca tempo, suor e dinheiro só porque você “precisa” aprender inglês. Ninguém faz nada porque “precisa”. Tem que “querer”. E muito!
Não deixe de ler o texto “Aprender inglês com prazer é muito mais fácil. Saiba como!” publicado aqui mesmo no Tecla SAP. Lembre-se, entretanto, de que essa é apenas uma sugestão para você saber como enfrentar o desafio. Saber o porquê, é só com você.
Conclusão
Espero que este relato sirva para você entender que a resposta pode não ser óbvia nem as causas evidentes. Uma promoção no trabalho, uma aprovação no vestibular, uma viagem ao exterior etc. são apenas justificativas superficiais. Será necessário empregar outros recursos além dos cinco sentidos. Você vai ter que mergulhar bem fundo.
Garanto que, depois de descobrir a resposta, vai ficar muito mais fácil encarar o present perfect, as preposições, os phrasal verbs etc. Então, respire calmamente, pingue duas gotinhas de colírio nos olhos do coração e boa sorte!
Cf. 10 dicas infalíveis para quem quer aprender inglês
Cf. Choque cultural: por que não li este texto antes de viajar?
Cf. Como melhorar o listening? A dica que você nunca ouviu…
Speak up! We’re listening…
Gostou do texto sobre por que razão você deve estudar inglês? Você conhece alguma experiência semelhante? Eu gostaria muito de saber a sua opinião. Por favor, escreva na seção de comentários suas experiências na hora de estudar inglês. Obrigado!
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Referência
Se você gostou deste texto, você vai adorar os outros 99 em Top 100 – As cem melhores dicas do Tecla SAP, de Ulisses Wehby de Carvalho, ©Tecla SAP, 2014.
Olá Ulisses tudo bem?
Atmosfera como Darren definiu é uma sensação apropriada para conciliar a atividade profissional com prazer profissional, concorda? Enxergar o jogo para Darren era impossível mas viver a atmosfera do estádio estava ao alcance dele, pensei na enorme quantidade de deficientes visuais que viveram uma vida inteira sem se permitir essa experiência , o que me remeteu a outra característica que Darren seguramente tem que é a coragem , característica importante porque primeiro de tudo Darren teve coragem de ir ao estádio sabendo que todos que o vissem questionariam a si próprios e a ele os mais curiosos o que ele estaria fazendo ali, estava exposto ao elogio e ao deboche também. Ele não estava vendo essas pessoas, mas poderia ouvir elogios ou risos e sentir como sua presença estaria afetando aqueles que o vissem e não se importou com isso, resolveu superar esse questionamento limitador com o que poderíamos chamar de egoísmo construtivo porque até certo limite eu acredito que é bom ser um pouco egoísta e não se importar muito com o que os outros estão falando ou pensando e se manter na busca da própria felicidade explorando os próprios limites, o que nem sempre é fácil.
Quando eu por volta dos treze anos descobri na região da Avenida Paulista uma escola chamada União Cultural Brasil Estados Unidos, quis frequentar mas estava acima das minhas possibilidades, alguns anos depois fiz um semestre nessa escola e depois disso tudo que aprendi em Inglês foi de maneira autodidata, trabalhei numa fabrica de relógios onde meu chefe um velho senhor judeu que falava algo em torno de dez idiomas diferentes inclusive o Português porque ele era cidadão não sei se Tcheco ou se Eslovaco porque na época era uma coisa só me deixava admirado ao ver alguém dominar tantos idiomas, sempre quis fazer algo semelhante
Tenho trabalhado com vendas nos últimos 25 anos e sinto a urgência de fazer algo que me dê a tal atmosfera que Darren encontrou e isso passa por dominar o Inglês seguramente, o que me dá a certeza da necessidade de aprender e minhas motivações e intenções talvez com o tempo eu possa detalhar melhor nas próximas mensagens para que essa não se alongue demais
Grande abraço, obrigado por se importar.
Com certeza, excelente texto… Para trabalhar com a lingua inglesa tem que estar in loco pra sentir a atmosfera, ou pelo menos querer sentir. No meu caso tbem sou louco pra ir la, mas falta o dindin rsrs mas como eles mesmo dizem ” good things belongs to who waits..” Tenho certeza de que um dia vou realizar o meu sonho de ir.. Enquanto isso vou descascando o que posso por aqui. Gosto de ler livros de americanos, eu fecho os olhos e sinto como se eu estivesse la.. Acho que isso responde porque almejo essa area de trabalho. Abraços .
Lindo texto… Estudo porque sou extremamente curiosa também…mas acredito que o principal motivo seja porque quero entender e aprender a cantar as músicas de que gosto. Obviamente que sei que irei colher mais do que divertimento, mas é esse o meu ” pulo do gato “. Abraços.
Tuani, tudo bem? Eu é que agradeço as palavras gentis sobre o texto. Fico mesmo contente em saber que ele foi útil para dar essa ajuda tão necessária no longo processo de aprendizagem de um idioma estrangeiro. Volte sempre! Abraços
Olá, Ulisses !
Artigo lindo ! Mais importante que aprender outro idioma é preciso querer se COMUNICAR com as pessoas , interagir ! E vc não só usou outra língua, vc estava aberto a
” aprender ” outra realidade.
Claro que falar outros idiomas ajuda muito . E este é o meu motivo de aprender outras línguas: me comunicar .
Abraços
Cássia, como vai? Muito obrigado pelo elogio ao texto. Concordo plenamente com as suas observações. Abraços
Olá Ulisses parabéns pelo post, gostei muito. Um dia meu filho me disse que queria estudar Ingles, ai com dificuldades inscrevi ele em uma escola, e passou certo tempo percebi que ele começou a faltar as aulas e ai lhe fiz uma pergunta. Matheus voce não vai ao curso? E ele me respondeu: Acho que não é isso que eu quero! Então pensei comigo vou começar a estudar Ingles. No começo foi para mostrar pra ele que quando a gente quer uma coisa de verdade não tem dificuldades que nos faça desistir. Depois com o passar do tempo fui pegando gosto e estou ai estudando, trabalho como motorista de caminhão, só estudo quando o tempo deixa já não sou nenhum garoto mais estou firme e não tenho pressa. Só que ao contrário dele eu iria estudar só, sem professor tipo assim querendo provar para ele que temos que primeiro querer para ai sim seguir em frente. Bom vou parar por aqui, só quero lhe agradecer por tudo que venho aprendendo com você. Obrigado.
Vlad, tudo bem? Eu é que agradeço o feedback gentil. Espero que seu exemplo sirva de inspiração para mais pessoas. Volte sempre! Abraços
Amanda, como vai?
Muito obrigado pelo feedback simpático. Fico feliz em saber que você gostou do texto. Volte mais vezes e comente sempre que puder.
Abraços
Cleyton, como vai?
Muito obrigado pelo feedback bacana. Espero que você tenha êxito em seus projetos. Bons estudos!
Abraços
Maris, tudo bem?
Muito obrigado pela participação. Música também foi o que me fez querer aprender inglês. Volte mais vezes e comente sempre que puder.
Abraços
Cláudio, tudo bem?
Muito obrigado por compartilhar sua história conosco. Espero que ela sirva de incentivo para quem está começando. Volte sempre!
Abraços
Alanna, como vai?
Muito obrigado por compartilhar conosco sua história. Espero que mais gente se motive a estudar inglês. Volte mais vezes.
Abraços
Hi Uilisses, muito interessante esse post, gosto muito dos seus posts sempre que recebo um e-mail do TeclaSap vou “correndo” ler. Enfim, vejo que você trabalha com a verdade sem ilusões. Parabéns pelo trabalho e gostei bastante da sua experiência.
Wagner, tudo bem?
Muito obrigado pela participação. Agradeço de coração o elogio. Volte sempre!
Abraços
Maria, tudo bem?
Muito obrigado pelo comentário. Cada pessoa tem seu ritmo de aprendizado. O mais importante é não ter pressa exagerada e, acima de tudo, encontrar prazer em aprender. O resto é consequência.
Abraços
Gisela, como vai?
Muito obrigado pelo comentário gentil. Saber que o trabalho está sendo reconhecido é muito bom! Bons estudos!
Abraços
Serviu como “Chiken soup for the soul”. Parabéns!
Sílvio, tudo bem?
Glad to hear that! Obrigado pelo feedback.
Abraços
[…] Cf. Por que estudar inglês? […]
“pingue duas gotinhas de colírio nos olhos do coração…”
Que delícia de texto Ulisses!
Elisa, tudo bem?
Muito obrigado pela mensagem simpática. É gratificante saber que o texto foi útil para você. Volte mais vezes.
Abraços
Antônio, tudo bem?
Muito obrigado pelo feedback super simpático. É uma satisfação enorme saber que o conteúdo está ajudando tanta gente. Valeu!
Abraços
Olá, Ulisses! Bom dia!
Recebo seus e-mail há pouco mais de 1 mês e devo admitir que este foi um dos poucos que li, acredito que o título “meu texto favorito” me chamou atenção. 2016 se inicia e com ele aqueles primeiros dias de intensa reflexão sobre a vida, sendo assim, o texto foi mais do que oportuno para data. Irei gastar meu tempo a pensar em suas indagações e espero encontrar não só a resposta, mas nela a razão para intensificar os estudos. Obrigada por esse momento. Um grande abraço!
Thaís, como vai?
Muito obrigado pelas palavras gentis. Fico feliz em saber que você captou a essência do texto. Espero que ele seja útil nas suas reflexões. Feliz 2016!
Abraços
Muito bacana seu texto, concordo que é necessário o desejo de aprender.
Eu mesmo, quando pequeno, tinha imensas dificuldades com inglês e aquilo parecia “coisa de outro mundo”. Na minha adolescência tive duas aulas (de 4 horas cada) com uma professora idosa que me mostrou como o idioma trazia muito mais de que parecia no início, mostrou-me como raciocina um inglês ao falar, a formação básica das palavras, e isso me fez mudar a visão que tinha da língua inglesa. Hoje consigo conversar razoavelmente, assistir filmes sem legenda alguma, escrever um pouco e ler diversos livros em inglês sem qualquer dificuldade (desde O Senhor dos Anéis, Harry Potter, até livros técnicos). Mas tudo isso somente aconteceu porque essa professora me mostrou que aprender inglês poderia ser muito mais de que parecia, ela me ajudou a querer aprender – continuo estudando hoje, décadas após, e sempre com vontade de saber mais.
André, tudo bem?
Muito obrigado pela história inspiradora. Parabéns a você e à sua incrível professora. Tem pessoas que mudam a vida da gente com algumas palavras apenas. Gostei! Volte mais vezes e comente sempre que possível.
Abraços,