Gosto mesmo é de homem! Histórias de cabine…

Tempo de leitura: 6 minutos

Gosto mesmo é de homem by Ulisses Wehby de Carvalho

Gosto mesmo é de homem! Histórias de cabine…

O evento

Esta história aconteceu comigo não faz muito tempo em um evento com tradução simultânea. O seminário debatia a presença feminina nos postos mais altos da hierarquia de empresas e governos de diversos países. Foram convidadas mulheres que exercem diversos cargos de liderança. Estavam presentes presidentas, diretoras, membras de conselhos de administração de grandes corporações, jornalistas famosas, entre outras mulheres de destaque, tanto do Brasil quanto do exterior. Na plateia, havia pessoas de ambos os sexos interessadas na questão, embora as mulheres fossem maioria.

gosto mesmo é de homem

Entre outros assuntos relacionados ao tema, debatiam-se as importantes conquistas já alcançadas, mas sem deixar de destacar que muito ainda precisava ser feito para que haja, de fato, igualdade no ambiente de trabalho. Falou-se sobre as diferentes características da mulher em posição de liderança e os tipos de preconceito que, na maioria das vezes, ainda sofrem. Um deles era o de serem chamadas por funcionários preconceituosos de “mulher macho” e “sapatão“, entre outras coisas.

A saia justa

Nesse momento, a palavra foi dada a uma senhora, presidente do conselho de administração de uma grande empresa, que, em tom de brincadeira, disse em inglês:

gosto mesmo é de homem– Let me make this very clear: I love men!

Eu, intérprete do sexo masculino, traduzi assim:

– Quero deixar uma coisa bem clara: eu gosto mesmo é de homem!

Deduzo que a reação da plateia, mais intensa do que o esperado, a deixou um tanto constrangida. Ela tentou se explicar:

– No! Not any man. I love my husband!

Sem me intimidar com a situação, continuo traduzindo com a mesma naturalidade:

– Não! Não é qualquer um. Amo o meu marido!

Cf. Como se diz “saia justa” em inglês?

A reação da plateia

É evidente que o público riu mais do que o normal pela graça de ouvirem a afirmação  sendo dita por um intérprete do sexo masculino e, talvez, por acharem que eu ficaria sem graça. Interpreto mulheres constantemente e, como sempre traduzimos em primeiro pessoa, não me estranha nem um pouco dizer “Muito obrigada!”, “Estou cansada…”, “Fiquei emocionada…”, entre outras coisas. Admito que a situação até possa causar uma certa estranheza para quem não vive o universo da tradução simultânea rotineiramente, mas, para quem é do ramo, é a coisa mais normal do mundo.

É óbvio que não é todo dia que tenho de traduzir frases do tipo “Eu gosto mesmo é de homem…”, mesmo porque essa não é uma afirmação que aparece com frequência nos eventos. Daí ela ter causado mais risos na plateia do que se ela tivesse sido traduzida pela minha colega daquela dia. Foi engraçadinho e só. Nada que tenha prejudicado o bom andamento dos trabalhos.

Aliás, me senti muito lisonjeado pelo convite e por ter tido a oportunidade de, mesmo que indiretamente, ajudar a combater o preconceito e a promover a igualdade de gêneros. Sem a menor dúvida, isso é o mais importante.

Intérprete homem ou mulher?

No vídeo demonstração publicado no post “Vídeo: Simultânea ou consecutiva?“, você viu que uma professora fala chinês, mas é um aluno quem faz a tradução simultânea para inglês. Em seguida, um professor fala em espanhol e uma aluna interpreta para inglês. Ou seja, oradores e intérpretes não precisam necessariamente ser do mesmo sexo.

Algumas exceções ainda são feitas, principalmente em eventos com tradução simultânea transmitidos pela televisão. Em premiações e programas em que, por exemplo, um homem e uma mulher são os mestres de cerimônia, as emissoras preferem que os intérpretes sejam do mesmo sexo do/a apresentador/a. Trata-se de hábito antigo ainda cultivado por alguns canais de TV.

Cf. Oscar, Tradução Simultânea e o Porta dos Fundos

Nada impede que um intérprete do sexo masculino entenda de produtos de beleza, mas, em geral, as intérpretes reúnem melhores condições e podem realizar um trabalho com mais propriedade em eventos dessa área. O que conta é o conhecimento da terminologia, a experiência prática, o fato de já ter trabalhado em congressos sobre a matéria ou correlatos, em suma, a familiaridade que a pessoa tem com o mundo dos cosméticos.

Embora ainda haja gente que, infelizmente, torce o nariz quando ouve uma voz feminina traduzindo um homem ou vice-e-versa, tenho certeza de que, com o passar do tempo, essa postura tende a desaparecer. Da mesma forma que vai se tornando algo cada vez mais corriqueiro e natural a presença das mulheres em postos de trabalho que eram tradicionalmente masculinos. Assim espero.

Em suma, preconceito, seja de que tipo for, não tem nada a ver mesmo. E a luta contra qualquer forma de intolerância deve ser travada incansavelmente todos os dias. E ponto final.

Cf. Consciência Negra: como dizer “Dia da Consciência Negra” em inglês?

Cf. Como dizer “sair do armário” em inglês?

Cf. Como se diz “Orgulho Gay” em inglês?

Cf. Gloria Kalil, o Código Penal e o “Grammar Nazi”

Speak up! We’re listening…

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Referência

Top 100 – As cem melhores dicas do Tecla SAP, de Ulisses Wehby de Carvalho, ©Tecla SAP, 2014.

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Ulisses Wehby de Carvalho

Rita, tudo bem?

Muito obrigado pelo relato de sua experiência e pelo elogio a minhas histórias. Concordo com a sua observação porque adoro quebrar tabus! 😉 Volte mais vezes e comente sempre que puder.

Abraços

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