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Não sei se você se lembra, mas escrevi um post em 2007 para contar que eu iria fazer uma tatuagem. Eu disse também que a intenção era homenagear meu irmão, falecido em 1996 e que tinha um tigre tatuado no braço. Aproveitei para publicar um texto dele, que encontrei procurando documentos antigos naquela mesma época. Os detalhes dessa história e o texto “Aconteceu”, você lê em “Ortografia: Tatuagem“.
Voltando a 2013, aconteceu de novo! Fiz a segunda sessão para reforçar os traços da tatuagem há poucas semanas para ela receber as cores e, ontem, procurando mais uma vez por documentos antigos, encontrei outro texto do Paulo. Spooky! 🙂 A redação, que não está datada, deve ser da época de cursinho, no início da década de 80.
Com toda sinceridade, não vejo nada demais nessas coincidências. Só acho mesmo muito bons os textos dele e mais nada! Só por isso, resolvi também mostrar este para você. Depois me diga o que achou nos comentários.
Medo
A noite se antecipou. Os homens não a esperavam quando ela desabou sobre a cidade com nuvens carregadas. Ainda não estavam acesas as luzes quando o vento trouxe a tempestade.
Via-se nitidamente o medo estampado nos rostos daqueles que, afoitos como animais selvagens, buscavam abrigo. Nas lojas, igrejas e até mesmo em residências estranhas. Não tão estranhas naquela tarde, graças à solidariedade, presenteada por Deus, a todos os homens frente às grandes calamidades.
O cheiro da chuva vindoura, misturado ao suor gelado das pessoas que se lembravam da última enchente, confundia as narinas sempre atentas dos cachorros de plantão, que caminhavam sérios, sentindo sob as patas os tremores causados pelos tambores celestes, que anunciavam o holocausto.
Poucos minutos se passaram e já não se ouvia um só ruído, voz ou latido, enquanto a tempestade, de nuvens pesadas, passava, desabando afinal nos campos de trigo, que a receberam calmamente, sem medos e sem abrigo.
Paulo Wehby de Carvalho
As duas únicas observações da Beth, a professora que corrigiu o texto, foram as seguintes: “Centralize” (no título) e uma vírgula no terceiro parágrafo. Em letras vermelhas, ela finaliza: “Conteúdo muito bom. Linguagem fluente. Parabéns!”. Você concorda com ela? 😉
Cf. Vocabulário: Irmãos
Cf. O que “RAINMAKER” significa?
Cf. Phrasal Verbs: Parar / Diminuir (chuva)
Cf. Por falar em chuva…
Gostei muito do texto, muito bem escrito e emotivo…
Simplesmente incrível! Sobre o seu comentário “Estava difícil enxergar a tela com os olhos marejados…”, emocionei-me. Tenho uma irmã 2 anos mais nova que eu, que é o presente mais maravilhoso que já ganhei, e imagino a dor da sua perda. Anos e anos se passam e a saudade sempre fica.
Grande abraço pra você 🙂
Ótimo texto Ulisses,
Parabéns para o seu irmão e a você por nos ajudar. Obrigado de coração.
Tenho certeza que seu irmão está feliz por compartilhar este texto conosco.
Abraço Prof. Ulisses
Lindo texto! Ele deve ter sido e é muiti especial. Sinto muito por tê-lo perdido, pelo menos, um pouquinho…Obrigada por comportilhar esse e muitos posts seus. Agredito que assim como seu irmào vc também é especial. Obrigada por tudo que aprendi com vc…
Ulisses,
Você realmente deve se orgulhar ainda hoje de seu irmão. Que belíssimo texto!! Concordo plenamente com cada observação da professora dele. Certamente podemos sentir cada palavra descrita por ele.
Magnífico!!!!
” sem medos, sem abrigo”
É até sensual! Muito bonito como ele descreve a terra ( o trigo) recebendo a chuva.
Bela interpretação dos magníficos fenômenos da natureza e de nossas reações diante deles, que deve ser de máxima cautela, nós brasileiros de curta memória, podemos nos remeter a uma descrição do Conde D’eu durante a guerra do Paragaui, nela o ilustre cidadão, nomeado chefe das forças de coligação, após a saída de Caxias, que não considerava a campanha digna de um militar de seu calibre, descreve um pavoroso temporal que se abateu sobre as forças acantonadas em determinado sítio, e então se refere às milícias celestes em formação de combate, e ao troar apavorante de seus canhões, é um belo texto, não é para todos descrever tais fenômenos.
Abraços.
Agradeço de coração todos que comentaram acima. Vou publicar mais coisas dele em breve.
Abraços a todos
Muito bem escrito, pude sentir toda a sensação da vinda da grande chuva!
Muito bom!
Seu irmão tinha um grande potencial para escritor, como sou espirita creio que ele esteja desenvolvendo isto no além, pois tive a impressão que ele é falecido, se estiver entendido errado peço desculpas! Deve publicar a obra dele, eternizar como disse Alecssandro Brandão anteriormente. Abraço e manda o convite da publicação do livro!
No segundo parágrafo, linha 2, onde se lê “aninais”, leia-se “animais”. No terceiro parágrafo, linha 3, onde se “temores” não seria “tremores”? Meros deslizes de digitação. O texto é excelente.
Cristina,
Obrigado pelas observações. Já fiz as correções. Estava difícil enxergar a tela com os olhos marejados…
Abraços a todos
Excelente texto! Denota maturidade emocional, capacidade de sentir, sensibilidade aflorando… mas essas pessoas sofrem mais do que a maioria da humanidade, portadora de insensibilidade, ganância e tantos males tão visíveis nos dias de hoje…
Por favor, Ulisses, encontrando mais material tão rico como esse, repasse-o: só fará bem a quem o ler!
Abração,
Maria 09/03/13
Eu senti a realidade narrada como se visse as imagens de um filme, ou uma reportagem na tv. Ótimo!
Sim, concordo com ela. Belo texto!Mais bonita ainda sua atitude, seu carinho por seu irmão.
(Coincidências não existem, Ulisses.)
O texto é lindo. Bem escrito e bem sentido. Algo que se pode ler, além das entrelinhas. Quase dá pra sentir as gotas de chuva. Estou certa de que a Professora viu todo o potencial do Paulo. Você tem um Big Brother! Abraços.
Muito bem escrito, digno de ser eternizado num livro.
Arte… Com certeza… It’s all around…
Eu achei ótima!E linda!