Depende! Por que é tão difícil aceitar “Depende.” como resposta?

Tempo de leitura: menos de 1 minuto

Ulisses Wehby de Carvalho

Depende!

Escrevi um post ontem sobre as possíveis traduções de Just do it. A expressão, como você sabe, é conhecida por todo mundo por estar associada à Nike há muitos anos. Em “JUST DO IT: como traduzir o slogan da Nike?” explico que não há uma solução única e definitiva para vertermos a locução para a língua portuguesa. Faço inclusive referência a outro post, “A importância do contexto“, para reforçar a tese de que, dependendo da situação, a resposta pode ser uma coisa ou outra. Como de costume, o post recebeu vários comentários.

depende

O que me surpreende, no entanto, é o fato de várias pessoas dizerem “eu traduziria assim…”, “independente do contexto…”, “a intenção é exatamente…”, entre outras tentativas de encontrar a solução definitiva. Em suma, contrariando totalmente o que escrevi. Por que é tão difícil aceitar que não há uma resposta só? Por que perdemos tempo e nos esforçamos tanto para satisfazer um anseio, quase primitivo, de encontrarmos uma solução absoluta para um problema?

Seria o intenso bombardeio de situações do tipo falso/verdadeiro, sim/não etc. a que somos constantemente submetidos desde a infância? O que seria do cinza e de seus mais diversos tons se tudo fosse branco ou preto? Antes de mais nada, no entanto, afirmo que não sou neurolinguista, pedagogo, antropólogo nem nada. Levanto algumas hipóteses com a intenção de estimular a reflexão e, em última análise, auxiliar quem estuda inglês.

Se eu perguntasse qual é o melhor meio de transporte, tenho certeza de que eu levaria para casa várias bicicletas, alguns metrôs, umas duas motos e um trem até aparecer alguém que dissesse: Depende! Para um jovem de 16 anos, que mora e estuda no mesmo bairro de ruas relativamente planas e sem trânsito intenso de veículos, a resposta não vai ser uma Ferrari nem um Airbus A380. Para ir de Nova York a Mumbai, acho que skate e bicicleta não seriam alternativas viáveis. Sei que essas observações são óbvias, mas não as aceitamos com a mesma naturalidade quando o assunto passa a ser tradução e/ou aprendizado de idiomas.

Diante de palavras e expressões cujas traduções são ainda mais fluidas, como take for granted e breakthrough, por exemplo, a reação natural é dizer que elas não têm tradução. Sinto contrariar quem pensa assim, mas elas têm, sim, tradução. Acontece que nem sempre a mesma solução se aplica a todos os casos. Volta a reinar supremo o tal do “Depende.”. É nessa hora que algumas pessoas, provavelmente as que têm raciocínio lógico bastante desenvolvido, enfrentam maior dificuldade. Em uma palavra: Desapega!

Para facilitar as coisas, responda em voz alta as seguintes perguntas:

– Calça ou bermuda?

best road

Todos: Depende!

– Sandália ou sapato fechado?

Todos: Depende!

– Duas ou quatro portas?

Todos: Depende!

– Qual é a tradução / o significado de Just do it, empowerment, garden, join, help e vegetable?

Todos: Depende!

E que fique bem claro que não tenho nada contra os profissionais das ciências exatas. A lógica cartesiana, entretanto, poucas vezes se aplica ao estudo dos idiomas. Nesse caso, a ciência abre espaço para a arte. Maleável, flexível, fluida e multicor. Deal with it!

Speak up! We’re listening…

O que você achou do texto sobre “Depende!”? As informações foram de certa forma úteis para o seu aprendizado? Nós do Tecla SAP gostaríamos de saber se você gostou das dicas de hoje. Envie, por gentileza, comentário no rodapé da página. Muito obrigado!

Referência: Top 100 – As cem melhores dicas do Tecla SAP de Ulisses Wehby de Carvalho, ©Tecla SAP, 2014.

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[…] acha que essa constatação é uma pílula dura de engolir, recomendo a leitura do texto “Por que é tão difícil aceitar “Depende.” como resposta?“. Não vai resolver o problema totalmente, mas garanto que vai ajudar bastante… […]

Andressa Barbosa
Andressa Barbosa
9 anos atrás

Ulisses, parabéns! Está nos ajudando muito. Várias dicas que são mega importantes pra quem está aprendendo Inglês ou gostaria de aprender. E os E-books são ótimos. Me diverti bastante lendo o primeiro (dos micos) haha’

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás
Responder para  Andressa Barbosa

Andressa, tudo bem?

Muito obrigado de coração pelo feedback simpático. É mesmo muito gratificante saber que o conteúdo está sendo bem aproveitado. Volte sempre!

Abraços

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás

Yvone, tudo bem?

Muito obrigado pelas palavras super simpáticas. Aprecie sem moderação! 😉

Abraços

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás

Poliana, tudo bem?

Muito obrigado pelo comentário. Não tenho, infelizmente, resposta para a sua pergunta. 😉 Volte sempre!

Abraços

Luciana Balparda C. Sales
Luciana Balparda C. Sales
9 anos atrás

Maravilhoso o texto, muito bom de se ler!!! Essa é a beleza dos idiomas e das culturas! Preto ou branco? Depende! Noite ou dia? Depende! Beijinho ou aperto de mão? Depende! Com artigo ou sem artigo? Depende! E viva as diferenças!!! Parabéns, Ulisses!!!

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás

Luciana, tudo bem?

Obrigado pela visita e pelo feedback simpático. Volte mais vezes.

Abraços

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás

Maria Alexandra, tudo bem?

Muito obrigado pelo comentário. Tenho certeza de que sua opinião contribui bastante para o debate. Volte mais vezes e comente sempre que puder.

Abraços

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás

Rinaldo, tudo bem?

Obrigado pelo comentário. Não acho que exista uma tradução “correta” e que só a Nike a conheça. A Nike não é dona da frase! “Just do it” é uma oração formada por palavras muito comuns da língua inglesa e ela é usada no dia a dia por milhões de pessoas.

O brilhantismo da sacada de marketing é justamente o fato de “Just do it” permitir mais de uma interpretação. Só isso!

Quem procura por uma solução definitiva para essas questões vai continuar se frustrando…

BTW, corro com tênis da Asics… 😉

Abraços

Rinaldo Faria
9 anos atrás

(lol) Também uso Asics.
Verdade pois não havia pensado nisso. Vc está certo. É mais uma grande sacada de marketing.
Grato pelo esclarecimento.
abç

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás
Responder para  Rinaldo Faria

🙂 Abs

Caio Marino
Caio Marino
9 anos atrás

Excelente texto, Ulisses! A explicação para a sua pergunta “Por que é tão difícil aceitar que não há uma resposta só?” está na psicanálise de Freud: existe uma “economia mental”, algo parecido com a “lei do mínimo esforço”, que faz o cérebro tender a buscar sempre a resposta mais simples (e, muitas vezes, simplista e equivocada) para os problemas, mesmo os mais complexos. Os efeitos danosos dessa “economia mental” vão muito além do campo da tradução, que você tratou nesse excelente texto; eles atingem todo o espectro da atividade humana e são responsáveis por crenças danosas como “mulher (ou homem) é tudo igual”, “todo político é ladrão”, etc. A capacidade de discriminação (percepção das diferenças mais sutis) é uma das mais evoluídas do cérebro. Deveríamos usá-la mais! Abraço.

Adriana Pereira Santos
9 anos atrás
Responder para  Caio Marino

Caio, tudo bem?

Ótimas colocações! Essa percepção das diferenças é exatamente o que amplia a nossa visão de mundo e nos ajuda a crescer como seres pensantes e, evidentemente, tem um papel fundamental também no estudo de um idioma. Volte mais vezes!

Abraços.

Caio Marino
Caio Marino
9 anos atrás
Responder para  Adriana Pereira Santos

Obrigado, Adriana! Voltarei! 🙂

Samuel
Samuel
9 anos atrás

Gostei da parte final do texto. Caiu muito bem ao contexto acima citado, sem falar do lado poético, claro. Vivendo e aprendendo!

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás
Responder para  Samuel

Samuel, tudo bem?

Obrigado pelo feedback simpático. É sempre bom saber que o trabalho está sendo bem aproveitado. Valeu!

Abraços

Lourdes Moraes
Lourdes Moraes
9 anos atrás

Ulysses, aprendo muito com vc!

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
9 anos atrás
Responder para  Lourdes Moraes

Lourdes, tudo bem?

Obrigado pelo feedback simpático. Volte sempre!

Abraços

Ulisses Wehby de Carvalho
Ulisses Wehby de Carvalho
10 anos atrás

Cláudia, tudo bem?

Pois é, o mesmo acontece com outros profissionais criteriosos como você. Fazer o quê… 😉

Abraços

Lucas Ribeiro
Lucas Ribeiro
11 anos atrás

Texto muito interessante. Ainda mais pra mim que tenho certeza habilidade com raciocínio lógico. Porém já tive essa percepção logo nos primeiros meses a estudar inglês. Thanks!

Andrielle
Andrielle
11 anos atrás

Look, I have dimished the frustration of my students because I try to explain to them since really early about the nuances of English and that in portuguese they also exist. That

Raphael
Raphael
11 anos atrás

Quando eu era criança, achava que os americanos pensavam em português e algum problema na língua os fazia falar em inglês (idem pra todas as nacionalidades não lusófonas e seus respectivos idiomas). Desta forma cada palavra em português teria seu equivalente (como cada produto e seu código de barra).

Claro que hoje não penso assim. 🙂 Houve progresso!!! Hoje sei que a língua de um povo é consequência em grande parte de uma história cultural. O livro “Tingo, o irresistível almanaque das palavras que a gente não tem” ajuda a mostrar isto. A gente percebe que as língua evoluem independentes umas das outras (ainda que haja semelhanças) e que não são um projeto de engenharia, certinho, biunívoco.

LEANDRO
11 anos atrás

Wicked! Congrats mate! your ideas make things cristal clear, just pig-heads don’t take them in.

Andre
Andre
11 anos atrás

Sensacional o post, perfeito! Parabéns Ulisses

mariza
mariza
11 anos atrás

Matou a pau, Ulysses. Seu blog está cada vez melhor e mais objetivo. Parabéns!