Tempo de leitura: 3 minutos
by Ulisses Wehby de Carvalho
Quanto cobrar para fazer simultânea?
Já escrevi vários textos sobre tradução simultânea aqui no Tecla SAP. Vários deles têm o intuito de desfazer a falsa impressão de que basta ser bilíngue para ser intérprete. Dentre eles, destaco “Tradução Simultânea não se aprende com dicas” e “Tradução Simultânea – Ano novo, carreira nova“.
Mas não tem jeito, vira e mexe aparece alguém com um pedido como este abaixo:
Preciso que me ajude urgentemente!!!!! Sou professora de inglês em uma cidade pequena, sou formada em Letras, mas nunca trabalhei como intérprete nem como tradutora. Uma empresa me convidou para recepcionar um grupo de americanos. Não tenho ideia de valores, será que pode me socorrer???
Recebi autorização do colega Walter Estella, intérprete de conferência profissional, para publicar no Tecla SAP a resposta padrão que ele dá a quem lhe faz perguntas semelhantes. Quando perguntam a ele quanto se deve cobrar para fazer simultânea, este é o diálogo que costuma acontecer:
– Olha, me pediram para fazer tradução simultânea em um evento, mas eu não tenho experiência. Quanto devo cobrar?
– Fez curso de interpretação?
– Não.
– Então não cobre nada!
– Como assim? Vou trabalhar de graça?
– É claro! Se você não é profissional e vai quebrar galho, o serviço tem que ser de graça.
Cf. Como se diz “quebrar o galho” em inglês?
A resposta pode até parecer um tanto áspera a princípio, mas perguntas dessa natureza são um insulto para quem é profissional. Elas, infelizmente, comprovam que até mesmo quem tem conhecimento de uma língua estrangeira, e por isso mesmo deveria ter um pouco mais de noção sobre a dificuldade de se fazer tradução simultânea, acaba se iludindo a ponto de achar que, sem preparo nenhum, pode desempenhar um serviço tão técnico.
Prepare-se!
Se você se interessa pela profissão, prepare-se e vá em frente! Não é assim com as outras profissões? Ou você entraria em um carro com um “motorista” de primeira viagem e ainda por cima sem habilitação? Por que seria diferente com a interpretação simultânea? Há cursos universitários e profissionalizantes em formato presencial e online. Por exemplo, o Curso de Formação de Tradutores e Intérpretes, da Associação Alumni, tem duração de dois anos.
Se tiver interesse de fato em ingressar na profissão, confira o passo a passo em “Tradutor e intérprete: como se tornar um profissional da área?“. Em seguida, leia também “Mercado de trabalho de tradução simultânea“.
Valores de referência
O SINTRA, Sindicato Nacional dos Tradutores, publica seus valores de referência, um parâmetro que serve tanto para clientes quanto para tradutores e intérpretes profissionais. Os números são obtidos por meio de consulta aos profissionais das diferentes modalidades e mercados. O SINTRA deixa bem claro que esses valores são sugeridos, não tabelados.
Há sugestões sobre quanto cobrar pelos serviços de tradução, versão, revisão, tradução juramentada, interpretação de conferência, interpretação de LIBRAS, interpretação simultânea remota, tradução de multimídia, tradução para dublagem, entre outras modalidades. Até mesmo para a taxa de urgência, taxa de coordenação, per diem, lucros cessantes para os trabalhos em que é preciso viajar, etc.
Conclusão
Por certo, este artigo não foi a resposta que a consulente estava esperando. Ela deve até ter me achado bem rabugento. Em contrapartida, o texto tem informações úteis para quem deseja ingressar na área. Poderia talvez ter ser sido menos ranheta?
Enfim, entre agradar quem quer que seja ou valorizar a profissão que decidi abraçar há três décadas, sempre escolherei a segunda alternativa. E com uma pitada de azedume. Fazer o quê?
Mais sugestões
🌽 O inglês da agricultura e do agronegócio (com Walter Estella) 🚜
Conheça as principais pegadinhas na tradução de palavras e expressões usadas na agricultura e no agronegócio. Consulte o índice na descrição do vídeo para saltar para os trechos de seu interesse.
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Tradução Simultânea
Esta playlist reúne todos os vídeos sobre tradução simultânea já publicados no canal Tecla SAP com Ulisses Carvalho no YouTube. Há palestras completas, dicas práticas de tradução, exemplos da vida profissional de intérprete, mercado de trabalho de interpretação de conferência, a tradução simultânea remota (RSI – Remote Simultaneous Interpretation) etc.
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Speak up! We’re listening…
As informações deste post foram úteis? As explicações e os exemplos foram claros? O conteúdo foi de alguma forma relevante para o seu aprendizado de inglês? A equipe do Tecla SAP quer muito saber o que você tem a dizer com o intuito de oferecer mais conteúdo que seja de fato relevante para você.
Enfim, acreditamos no poder da interação e em aprender uns com os outros. Use, portanto, a seção de comentários a seguir para enviar perguntas, compartilhar sua opinião ou só agradecer. Seus comentários não apenas nos ajudam a melhorar, mas também criam uma comunidade vibrante de entusiastas do estudo da língua inglesa.
Em suma, vamos tornar a aprendizagem de idiomas uma jornada colaborativa. Com certeza, sua voz é mesmo muito importante. Não hesite, deixe um comentário e vamos iniciar a conversa!
De graça nada. Trabalho é trabalho. Se só tem ela que possa fazer naquela hora, ela tem que receber. Tá errado isso.
Tanto blablabla, e nenhum valor sugerido! É por isso que sitem assim desaparecem, nem ao menos uma pergunta simples conseguem responder. Traduz ae: you suck!
Boa troca de ideias. E apesar das controvérsias, manteve-se a discussão em nível respeitoso. Tenho licenciatura plena em Português/Inglês e sou apaixonada por tradução literária. Mas não ousaria trabalhar com tradução simultânea. É um campo super hiper mega específico…rs para o qual não tenho formação nem experiência.
Na minha opinião nenhum trabalho deve ser de graça. Conheço muitas pessoas que nem sequer fizeram curso de interpretação simultânea e possuem tal competência para realizá-la. Arriscar as vezes dá certo!
É complicado isso. Eu, por exemplo, moro numa cidade grande, mas longe de São Paulo e outras cidades onde há cursos profissionalizantes. Tenho um emprego como prof de inglês e procuro oportunidades como intérprete, mas sou casado e não tenho como deixar minha cidade e meu emprego p’ra ficar 1 ano ou mais em SP p’ra fazer o curso (pelo menos no momento), e nem achei ainda esse curso online. Então, só vou poder começar a me arriscar quando resolver tudo isto?! Claro que não, vou começar mesmo sem o curso e não acho que meu conhecimento (mesmo não se comparando a quem faz o curso) tão inferior a ponto de não cobrar nada. Achei um pouco exagerado recomendar fazer de graça.
Ricardo,
Acho muito engraçado usar a desculpa de que não tem curso na sua cidade. Você tem razão quando emprega o verbo “arriscar” porque é isso mesmo o que vai acontecer. Arriscam você e, principalmente, quem contrata.
Sua afirmação “e nem achei ainda esse curso online” demonstra total desconhecimento do que é a interpretação de conferência. Eu ajudo: você ainda não encontrou nem vai encontrar porque não existe curso online de tradução simultânea, meu caro.
Abraços a todos
Bom, eu acho que a moça do e mail precisa se defender…
O que eu acho que aconteceu, foi um mal entendido.
A princípio, tenho sim formação acadêmica, sou formada em Letras – Licenciatura Português/Inglês e Pós graduada em Língua Inglesa,ministro aulas de Inglês em duas escolas conhecidas da área há aproximadamente 6 anos e sei que tenho muito, ainda, a aprender.
Sou admiradora confessa do trabalho do Ulisses e acompanho frequentemente o seu blog, mas não imaginava que o meu e mail viraria tópico aqui.
Enfim, fui realmente convidada a RECEPCIONAR alguns convidados americanos em uma festa de casamento em minha cidade, porém desde o meu primeiro contato com a empresa deixei bem claro que não fazia traduções simultâneas já que essa não é minha formação, e até indicaria outra pessoa. Mas o que eles queriam, na verdade, era alguém que explicasse como a cerimônia religiosa seria conduzida, em que momento eles deveriam entrar na igreja, em que lado se sentariam, coisas de cerimônias religiosas. Já durante a festa, é óbvio, eles não precisariam de ajuda alguma, a não ser para localizar o banheiro. Fala sério, quem vai querer, durante uma festa, uma babá, o tempo todo te explicando o que acontece, ou o que vc deve ou não fazer, ou seja, meu papel, foi, apenas, explicar passos de uma tradição. Em momento algum fiz uso de tradução simultânea, que realmente não é a minha praia e jamais pretendi faze-la como tal. Tenho plena consciência das minhas obrigações e habilidades como PROFESSORA, jamais desejei ofender classe alguma,e sempre soube que a partir do momento que assumimos responsabilidades devemos ser cientes de nossas capacidades e como usa-las, especialmente se a minha carreira depender desta responsabilidade que consequentemente projetará minha imagem.
Talvez eu não tenha me expressado como deveria em tal e mail, dando oportunidade a entendimentos diversos, mas deixei bem claro que fui convidada a RECEPCIONAR e jamais TRADUZIR conferência ou algo parecido.
Tudo foi um sucesso, a comunicação não teria como ocorrer de maneira mais natural, afinal foi pra isso que fui contratada: para me comunicar com um grupo que não falava a nossa língua, e em momento algum, agi como tradutora, pois sei que esta função não compete a mim, pois se assim fosse teria estudado para tal.
Mas de qqer forma fiquei muito grata pelas dicas e consideração do consultor e demais.
Parabéns pela humildade que muitos “profissionais” não possuem!
Li seu e-mail no tópico acima e compreendi perfeitamente sua dúvida, simples de ser respondida. É uma lástima que algumas pessoas não tenham aptidão em interpretação de textos, até mesmo em “PORTUGUÊS”. Além disto, achei uma falta de educação a resposta que lhe foi dada. Não havia necessidade de tanta ignorância por parte de Ulisses.
Deixei de seguir “TeclaSap” neste momento. Há muito material de ótima qualidade em OUTROS sites na internet.
Ulisses: não adianta realizar um ótimo trabalho se ele é desvalorizado por sua arrogância!
Concordo plenamente, Karine.
Sendo este um site referenciado por um grande buscador como o Google, o idealizador deste poderia ao menos manter a ética e a postura ao responder a uma dúvida sincera e totalmente compreensível de uma leitora.
Também deixo de acompanhar este site desde já.
Sou licenciada em Letras, tradutora e intérprete formada pela Alumni. Não concordo com o comentário de que pessoas não preparadas “roubam” alunos de pessoas preparadas e formadas para darem aulas de inglês. Acho que há espaço para todo mundo trabalhar, cada um pode ter contribuições diferentes a oferecer. O profissional preparado e seguro não tem por que temer a concorrência, principalmente se considera a concorrência despreparada e sem formação.
Tradução e interpretação são trabalhos técnicos que requerem diversas habilidades além do conhecimento das línguas envolvidas. Quem sou eu para avaliar o que o outro é capaz de fazer? Já vi pessoas não formadas em tradução e interpretação, com conhecimentos razoáveis das línguas, realizarem excelentes trabalhos nesse campo.
Valorizar a profissão é importante, mas elitizá-la e coporativizá-la me parece descabido. It’s not brain surgery, you know?
Navegando pela net, encontrei esse texto, por acaso, e resolvi deixar uma opinião.
Não acho certo trabalhar “de graça”. Isso sim, tende a desvalorizar uma profissão.
O certo é não pegar um serviço que não seja da sua “ossada”. Simples, assim.
A questão não é a discussão “formação profissional x prática”, mas, trabalhar “de graça”, deixará o(s) cliente(s) acostumado(s) com “favores”.
Trabalho é trabalho.
No caso da moça mostrada no texto, o certo é ela indicar outro(a) profissional e/ou assumir que não tem capacidade para tal coisa.
Olá, Ulisses,
Fiquei impressionado com seu blog e seus textos e confesso que FINALMENTE achei uma ótima resposta para dar.
Trabalho com tradução midiática, ou seja, legendas para filmes e constantemente me deparo com traduções de pessoas que não têm nem “formação acadêmica” nem “formação prática”, mas que moraram “fora”.
Eu tenho os dois, pois sou formado e licenciado em Letras pela USP, formado como tradutor intérprete pela PUC-SP, fiz cursos de tradução midiática na GEMINI Media, morei 8 anos em Nova York e, ainda assim, acho que fiz pouco e tenho muito o que aprender.
É preciso muita cara de pau para assumir a responsabilidade com um cliente sem ter a capacitação para tanto, isso é irresponsabilidade e enganação, o que só desvaloriza o nosso trabalho e nos prejudica diretamente.
Guardadas as devidas proporções – é claro – mas quem aceitaria ser operado por uma pessoa sem formação, mas que trabalhou por 1 ano dentro de uma sala de operações como instrumentador, acompanhou vários procedimentos e agora decidiu abrir uma clínica?
Enfim, obrigado.
Diego,
Tudo bem? Eu é que tenho de agradecer pelo depoimento tão lúcido. Valeu! Volte outras vezes e comente sempre que puder.
Abraços a todos
Gostei do texto e concordo plenamente com a resposta do Walter Estella.
Esse caso é semelhante ao das pessoas que passam um ano nos EUA, voltam para o Brasil desempregadas, têm dificuldade de arrumar emprego e, enquanto isso, dão aulas de inglês pra “arrumar uns trocados”. São pessoas que aceitam ganhar qualquer valor por aula dada, e “roubam” alunos de escolas e/ou professores particulares, que estudaram para seguir tal carreira.
Já passei inúmeras vezes pela situação de uma pessoa me perguntar quanto cobro por aulas particulares e, após dizer o valor, a pessoa dizer: “mas eu conheço um fulano que passou um ano na Austrália e cobra 10 reais”. Minha resposta é: “Vá fazer aula com ele então e, depois que tiver percebido o desperdício de tempo e dinheiro, me procure”..
Grande abraço Ulisses!!!
Rômulo Faria
Rômulo,
Obrigado por compartilhar o mercado em sua área de atuação também. Valeu!
Abraços a todos
Eu não concordo com essa idéia de que a pessoa precisa fazer um curso para ser profissional na área. Me explico melhor, não é todo profissional que precisa de um curso e nem é todo que faz o curso que se torna profissional. Sou físico e vejo para todos os lados Conselhos que reservam as vagas só para os que são filiados a eles enquanto outros profissionais poderiam executar aquela mesma tarefa. Um exemplo disso são os concursos cujas vagas eram preenchidas, em sua maioria, por físicos e que agora são abertos só pra quem tem diploma em outras áreas. Mas também não defendo uma prática que está se tornando cada vez mais comum, a do sujeito que passa 6 meses nos EUA e já volta como “professor” de inglês.
Isso que é interessante, debate e opiniões. E ainda sou contrário aos comentários, mas sem argumentos para “tentar não causar polemicas”.
Sucesso.
Abs,
Menos, Ulisses. Bem menos.
Amo o Tecla Sap mas achei o tópico totalmente desnecessário. Tampouco polêmico.
André,
Você acha que zero é muito? Acho que você tem razão, quem quer fazer experiência com cliente e participantes deveria pagar. Boa ideia!
Abraços a todos
Concordo com o Ulisses, uma coisa é saber uma língua estrangeira, ser fluente, outra coisa é ter formação para ensinar/ traduzir/ interpretar essa língua.
Achei esse post muito válido, concordo com o autor. Também sou formada em Letras , tenho experiência com o ensino da língua inglesa e estou morando e estudando nos EUA exatamente para aprimorar meus conhecimentos liguísticos e poder chegar a ter um domínio de fato sobre esse segundo idioma ( O que reaquer esforço). Bom, quero apenas acrescentar que se desejas ser valorizado profissionalmente, é preciso autocrítica ,se fazer valer com experiência e conhecimento.
Sinceramente eu não concordo em NÃO cobrar nada. Os exemplos a seguir podem ser variados, mas é a mesma idéia de uma pessoa que não é formado:
Ex1: Tenho uma amiga que morou 4 anos nos EUA e hoje trabalha como intérprete e dá aulas particulares e detalhe, ela se formou em Nutrição. Ela não tem cursos como mencionado, mas a possui experiencia que não seria adquirida em qualquer curso.
Ex2: Um fotógrafo (de casamento mesmo) é contratado pelo portfolio, pela experiencia que tem em fotografar. Ou voce contrataria uma pessoa que acabou de se formar e não tem experiencia ou uma profissional que não é formado mas tem 10 anos de experiencia?
Fato: ninguém contrata um serviço de graça pois sabe que pode não ter qualidade.
Acho muito distinto isso de não cobrar nada, se voce tem conhecimento ou ao menos capacidade mínima para tal tem que valorizar o seu conteúdo e como a questão levantada é de uma pessoa, inclusive, formada em Letras e dá aula deveria sim cobrar.
Bom, foi minha opinião.
Sucesso com o blog.
Abs,
Wellington,
Tudo bem? Obrigado pelo interesse no Tecla SAP e pelo comentário. Não confunda o debate entre “formação acadêmica” X “formação prática” (experiência) porque não é disso que estou falando. Aliás, a moça em questão não tem nem uma coisa nem outra!
Repito: saber falar dois idiomas não credencia ninguém a fazer tradução, muito menos simultânea.
Abraços a todos