Tempo de leitura: 5 minutos
RIBS
Você já me conhece e sabe que não sou especialista em marketing, muito menos em culinária. Mesmo assim, proponho um desafio para você. Observe a imagem com atenção e encontre a salada neste anúncio:
Brincadeiras à parte, você deve ter notado o uso de palavras da língua inglesa e da língua portuguesa na mesma peça publicitária. Até aí não há grande novidade porque a prática existe já há muitos anos. Fruto de uma verdadeira idolatria pelo que é estrangeiro, a estratégia funciona muitíssimo bem no aspecto comercial, caso contrário não seria adotada exaustivamente há tanto tempo por agências de publicidade nas campanhas de praticamente todos os tipos de produto.
Não é em todo mundo, portanto, que a salada linguística vai causar algum tipo de mal-estar. Afinal de contas, você ainda tem dúvida de que nós, os apreciadores de idiomas (vegetarianos e carnívoros), somos minoria?
Vamos esmiuçar juntos todos os ingredientes dessa salada linguística? Quais destes você conseguiu detectar no anúncio acima?
RIBS
O primeiro deles é ribs. Chamar “costela” de rib pode até ser chique, cool, hip, trendy, sassy e o caramba, mas rib é costela. Pode mudar o modo de preparo, o molho, a apresentação, as guarnições etc. mas rib vai continuar sendo “costela”. Ou ribs seria outra coisa e eu não entendo mesmo nada de culinária?
É evidente que a intenção é justamente essa, ou seja, o de conferir ao produto e ao serviço uma sofisticação, um algo a mais, que diferencie a rede americana de restaurantes dos concorrentes que vendem “só” a boa e velha “costela”. Aparentemente, é démodé chamar “costela” de “costela”.
Aproveitando, seria démodé usar a palavra démodé em um texto? 😉
É da natureza humana querer parecer ser mais do que verdadeiramente somos. Quando eu era garoto, por exemplo, morei em uma rua que dividia dois bairros. Um deles era nitidamente mais chique do que o outro. Quando me perguntavam em que bairro eu morava, adivinha qual era a minha resposta?
Depois de adulto, aprendi a valorizar quem sou de fato e deixar a afetação juvenil de lado. A primeira namorada acredita que eu morava em Perdizes, mas morei na Pompeia, sim, e com muito orgulho! 😉
ALL YOU CAN EAT
A expressão all you can eat pode ser uma boa alternativa para dizermos “rodízio” em inglês. Literalmente, all you can eat quer dizer “tudo o que você conseguir comer”, ou seja, você pode se servir à vontade, quantas vezes quiser.
É interessante observar que o próprio anúncio oferece a tradução da frase All you can eat ribs: Ribs à vontade. Como é que é o negócio? A tradução fica pela metade ou não?
Cf. Rodízio: como dizer “rodízio de carne” e “rodízio de carro” em inglês?
FREE
Uma das acepções do adjetivo free em inglês é “gratuito”. O anúncio pressupõe que o significado de free seja de conhecimento geral e usa a palavra inglesa sem a menor cerimônia.
REFIL
O termo “refil” é anglicismo já dicionarizado. A origem é a palavra refill. Em português, teríamos “Refil grátis” ou, em inglês, Free refill (com duas letras “L”). A salada fica completa quando adicionamos mais dois ingredientes: Free refil de ribs e batata.
VÍRGULA
Em “Você pediu ela voltou!”, não custava nada colocar a vírgula, custava?
COMERCIAL NA TV
Na versão televisiva do mesmo anúncio, a pronúncia de ribs está longe de ser a ideal. A diferença fonética entre os sons de “I” presentes em rib e eat, por exemplo, é dor de cabeça frequente para o brasileiro aluno de inglês. Mais sobre o tema em “SHIT x SHEET: We don’t use this s… in Brazil!” e em “BEACH x BITCH: qual é a diferença de pronúncia?“.
Conclusão
Não tenho nada contra a rede Applebee’s, aliás, já tive a oportunidade de comer em vários de seus restaurantes, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Além disso, o uso exagerado de anglicismos é generalizado, como afirmei no início do artigo. Entretanto, acredito que um pouquinho mais de cuidado com a língua portuguesa por parte de quem fala (e escreve) para milhões não faria mal nenhum.
Cf. Picanha: como se diz “picanha” em inglês?
Cf. Churrascaria: os cortes de carne em inglês e português
Cf. Publicitário: como dizer o nome da profissão em inglês?
Speak up! We’re listening…
Gostou do texto sobre ribs? Você conseguiu detectar todos os ingredientes da salada só pela observação da imagem? Por favor, expresse sua opinião na seção de comentários, no rodapé da página. Quanto mais gente participar da conversa, melhor, é lógico! Muito obrigado pelo interesse no Tecla SAP.
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Ruan, tudo bem?
Agradeço o interesse no Tecla SAP e o comentário. Volte sempre!
Abraços
Essa mistureba é realmente um ponto importante de ser observado, porque acontece com muito exagero. Mas, como tradutor com formação em design gráfico, vou bancar o advogado do diabo e dizer que até entendo algumas das decisões tomadas aí.
(não sou responsável pela peça, nem conheço qualquer envolvido)
Primeiro que o nome “All-you-can-eat Ribs” é meio que uma marca, não? Posso estar enganado, mas pelo que já vi da Applebee’s lá de fora, eles usam os mesmos termos de forma padronizada. Então pode ser uma questão semelhante a um “Cheddar McMelt” da vida. A tradução embaixo pode ser a única forma de “abrasileirar” sem comprometer o peso da marca original.
Segundo que a palavra Rib é muito menor que Costela, e isso conta muito na hora de elaborar uma peça gráfica, tanto pelo espaço quanto pela simetria geral.
Terceiro que, apesar de não haver vírgula em “você pediu, ela voltou”, existe uma hierarquização gráfica ali com a diferença no tamanho e no peso da fonte que meio que supre isso. Ou seja, são outros elementos desempenhando a mesma função da vírgula num texto, que é criar uma separação, e portanto tornando-a artisticamente dispensável – já que não se trata de um texto comum (senão a gente deveria reclamar de todos os pontos finais que não foram usados ali).
Mas quanto ao “Free Refil”, não tem o que defender. Desnecessário ao quadrado.
Luiz, tudo bem?
Muito obrigado por contribuir com o debate trazendo o ponto de vista do artista gráfico. Todas as justificativas fazem sentido embora, deduzo, pudessem ser contornadas sem grandes dificuldades. A manutenção ou não do texto em inglês em uma peça publicitária em um país em que a língua inglesa não é a oficial é mais uma questão de aceitação ou não do público consumidor.
Eu me lembro de levar um susto, ainda na década de 70, quando peguei um LP do Deep Purple lançado na Argentina. A capa estampava a palavra “QUEMAR”, em vez do original “BURN”. Na contracapa, todos os títulos das canções também apareciam em espanhol.
O noticiário esportivo da CNN em espanhol só fala em “los Vaqueros de Dallas”, “los Cachorros de Chicago”, “los Potros de Indianapolis”, “los Gigantes de Nueva York”, entre outros. Mais do que preservar o idioma materno, a emissora pressupõe que nem todos os seus telespectadores conhecem o significado de “Cowboys”, “Cubs”, “Colts” e “Giants”.
Não quero dizer que deveríamos rechaçar tudo o que aporta por aqui em inglês e adotarmos as práticas comuns nos países de língua espanhola. Não é isso! Acredito, no entanto, que um pouquinho mais de cuidado com nosso idioma não seria nenhum exagero.
Abraços
Gostei muitíssimo!
Realmente muito bom.
Vegetarian here!
Yan, tudo bem?
Muito obrigado pelo feedback. Volte sempre!
Abraços
Muito bem observado é explicado. Parabéns pelo post!
Ana Maria, como vai?
Muito obrigado pela gentileza de comentar. Volte mais vezes.
Abraços
Essa salada de palavras é incrível porque lembra como estamos relacionados com o inglês. Tanto é que as pessoas nem percebem, mas é lamentável que não se dediquem da mesma forma como fazem com as redes sociais, por exemplo. Boa questão a de levantar a dúvida de que não apenas cometem erros no inglês, como no português também!
Márcio, tudo bem?
Muito obrigado pela gentileza de expressar sua opinião. Volte mais vezes.
Abraços
Oi Ulisses, gostei demais deste “post”! Interessante e , aliás, em minha família (eu tenho 63 anos, sempre do lar, fui aprender inglês depois de meus filhos formados, só por prazer!), temos o costume, quase um vício de, tanto nas conversas como nas escritas, misturarmos muuuuiiiitas palavras em inglês! Uma verdadeira salada! Mas é um meio de sempre utilizarmos o inglês que tanto amamos! Abraços.
Irene, tudo bem?
Obrigado pelo elogio ao texto. Misturar os idiomas em casa é até normal e não há nada de desabone a prática. Chamo a atenção para o fato de o texto em destaque no post ser de um anúncio veiculado em diversos meios de comunicação.
Abraços
Ficou repetitivo ou eles quiseram mesmo enfatizar o “RIBS”?
“All you can eat RIBS” “Ribs à vontade” Free refil de Ribs e batata….” Eu não daria conta de comer tantas “Ribs”! lol
Abs Ulisses! Thanks for sharing…. 😉
Luciana, tudo bem?
Pois é, deduzo que a repetição repetição tenha sido intencional intencional… 😉
Abraços
Esse artigo de Ribs me deu foi fome…
Já passou da hora de idolatrar mais o que é nosso. Obrigada por ter aumentado meu vocabulário da língua inglesa.
Edna, tudo bem?
Também acho! Obrigado pelo interesse no Tecla SAP e pelo comentário.
Abraços
Também não acho legal essa salada linguística, mas como professora penso que poderíamos usar esse anúncio para mostrar como o inglês está presente no dia a dia de todos nós.
Tássia, como vai?
Bem lembrado! Muito obrigado pela observação. Volte mais vezes.
Abraços
Ana, tudo bem?
Obrigado por contribuir com a conversa. Estou mais para acreditar que a preocupação com a língua portuguesa é secundária para o perfil de consumidor desse produto.
Abraços
Excelente! Muito boa essa postagem. Estou conferindo a outra sobre pronuncias de palavras parecidas também… realmente um detalhe simples faz toda diferença. É preciso sempre estar revisando.
Marcos, tudo bem?
Muito obrigado pelo elogio ao texto. É bom saber que o conteúdo está sendo bem aproveitado. Volte sempre!
Abraços
Leonardo, tudo bem?
Obrigado pelo elogio ao texto. Volte sempre!
Abraços
Norberto, tudo bem?
Obrigado por também contribuir com a conversa. Volte mais vezes!
Abraços
Hebe, tudo bem?
Não resta a menor dúvida de que os criadores da campanha não vão dar ponto sem nó. Além disso, é inegável que a estratégia funciona. Como afirmo no texto, se não estivesse dando certo, a estratégia não seria repetida, é óbvio.
Uma coisa é o êxito comercial, mas o enfoque no Tecla SAP é exclusivamente linguístico. Desse ponto de vista, a nota só pode ser zero, né? 😉
Abraços
Elisa, como vai?
Muito obrigado pelo interesse no Tecla SAP há tanto tempo. Agradeço as palavras simpáticas em seu comentário.
Coincidentemente, meu pai, que tem 88, me perguntou hoje se “belt” era “faixa”. Ele recebeu a faixa preta de jiu-jitsu na sexta passada e está todo pimpão.
Abraços
Essa doeu! Montando um novo cardápio no nosso bar flutuante (ou lounge flutuante como alguns gostam de dizer), meu marido sugeriu que mudássemos o nome do prato, “Costelinha Barbecue”, para “American Ribs”… Não colou! Vai continuar Costelinha, mas, é claro, BARBECUE!! Será que mereço um brownie point por defender a nossa língua e deixar na explicação do prato: molho barbecue caseiro (não homemade!)?!!
Hebe, como vai?
Vai ganhar pontos se a costelinha for boa mesmo! 😉 Só seus clientes poderão dizer… Obrigado pelo comentário simpático.
Abraços
Concordo! E acho que o exagero pode tornar a mensagem/frase brega. Como escutei uma vez: “eh chique falar varias linguas, mas uma de cada vez” hehehe – desculpem a falta de acentos, nao tenho no meu teclado.
N., tudo bem?
Muito obrigado pela mensagem simpática. Volte mais vezes.
Abraços
Ao misturar idiomas, principalmente palavras em ingles, a intenção é dar uma entonação “chic”, “fashion” … do tipo: “sou cool porque entendo o anúncio”. Mas, sacrificar o português, me passa a impressão de : sou cool porém analfabeto.
Mônica, tudo bem?
Muito obrigado por contribuir no debate. Volte mais vezes e comente sempre que puder.
Abraços
Ulisses, quais são os cursos de maior referência no Brasil na formação de tradutores e intérpretes?
Súlivan, tudo bem?
Escrevi texto sobre esse tema. Confira em “Tradutor e intérprete: como se tornar um profissional da área?” em https://www.teclasap.com.br/como-ser-tradutor-e-interprete/
Abraços,