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The Physician by Ulisses Wehby de Carvalho
The Physician
A “preça” é inimiga da “perfeissão”. E da ortografia também, diriam alguns… 😉 Acredito que você já deve ter ouvido esse ditado um milhão de vezes. Aqueles que criticam afoitamente a opção de tradução escolhida pelo tradutor do livro The Physician, de Noah Gordon, publicado pela Editora Rocco, não consultaram o dicionário. Se o fizeram, foi com muita pressa. Pressa assim mesmo, com duas letras “S”!
Nem é necessário fazermos uma pesquisa etimológica profunda sobre o termo “físico” para entendermos por que razões os médicos na Idade Média eram chamados de “físicos”. Basta uma consulta rápida a um bom dicionário de português mesmo, como o Grande Dicionário Houaiss da língua portuguesa, para confirmarmos que o substantivo “físico” não designa apenas o cientista que se dedica ao estudo e à pesquisa dos fenômenos físicos.
E o consulente nem precisaria ler todas as nove definições do dicionário para satisfazer sua curiosidade. Seguem reproduzidas as duas primeiras acepções do substantivo “físico”, extraídas do dicionário citado no parágrafo anterior:
Físico
substantivo masculino ( sXIII)
1. hist. med médico da corte, na Idade Média
2. p. ext. hist. med ant. qualquer médico
Logo, não faz sentido dizer que a tradução do título de The Physician está errada. Para quem não sabe, a história do livro se passa na Idade Média. Pode-se até argumentar que não foi a melhor alternativa de tradução justamente pela polêmica gerada, mas daí a dizer que é erro de tradução são outros quinhentos. Os afoitos poderiam até argumentar:
– Mas, Ulisses, você mesmo escreveu em um de seus livros que physician é “médico”! E aí?
Escrevi mesmo. A afirmação está no post “PHYSICIAN: qual é o significado e a tradução da palavra?“, que foi extraído de verbete do livro eletrônico “Guia Tecla SAP: Falsos cognatos”. O que está implícito no meu texto, no entanto, é o fato de que esta é a definição moderna de physician, ou seja, seu significado é de fato “médico” hoje em dia, o que não se aplica ao título do livro de Noah Gordon.
Para quem ainda não leu o livro The Physician e tiver curiosidade de conhecer a trama, recomendo o texto da jornalista Andreia Santana “Resenha: O Físico (Noah Gordon)“.
Criticar tradução só por criticar é muito fácil. Mostrar caminhos dá bem mais trabalho, mas, em compensação, muito mais satisfação também. Duvida? Experimente clicar nos ícones das redes sociais e descubra como é gostoso ajudar os outros. 😉 Obrigado!
Cf. DOWNTOWN x UPTOWN x MIDTOWN: qual é a diferença?
Cf. Depende! Por que é tão difícil aceitar “Depende.” como resposta?
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Olá. Quero contribuir com a discussão: quantas vezes a versão em língua portuguesa desse livro se refere à tal profissão como “físico” durante a narrativa? Eu me lembro de ter visto essa palavra apenas na capa. Ou seja, tudo indica que quem traduziu o miolo do livro não foi a mesma pessoa que traduziu o título. Ou errou quem traduziu o miolo do livro ou errou quem traduziu o título.
[…] Cf. A tradução do título do livro “The Physician” por “O Físico” está certa? […]
[…] […]
andicor, tudo bem?
A definição da Wikipedia se refere apenas ao significado da palavra hoje em dia. Não sei se você notou que a definição que destaco do “Grande Dicionário Houaiss da língua portuguesa” remete a um significado de “físico” que já caiu em desuso. Não está errada a Wikipedia; não está errado o dicionário.
Abraços
[…] Cf. A tradução do título do livro “The Physician” por “O Físico” está certa? […]
Evaldo, tudo bem?
Obrigado pelo elogio… Desse jeito, vou começar a “me ter certeza”… 😉
Abraços
Hilton,
Se nem o subtítulo na capa (mais na cara impossível!) deu jeito… 😉
Na grande maioria das vezes, as críticas infundadas acontecem porque não houve tempo, interesse ou competência para se pesquisar o tema antes de o crítico incauto sair disparando sua metralhadora a esmo. Não sei se uma explicação no prefácio evitaria a gritaria dos “apreçados”.
No caso de tradução, o hábito é recorrente. Qualquer um se acha apto para emitir opinião simplesmente por ser usuário – competente ou não – de um ou mais idiomas. Não me canso de dizer que usuário não emite opinião sobre o funcionamento e os fenômenos linguísticos.
Fiz outro dia uma analogia com automóveis: nem todo motorista (usuário do idioma) é mecânico (linguista, especialista formado em Letras ou Tradução), mas o que tem de piloto dando palpite na regulagem de injeção eletrônica é uma beleza! 😉
Abraços
A minoria aqui representada por Edvaldo de Carvalho e Farley Rodrigues ganha mais um adepto, Ulisses:-)
Um médico meu amigo resolveu ler o livro durante suas férias. De lá da praia me passou um e-mail, alarmado com a tradução ─ disparatada a seu ver: “todo mundo sabe que physician é médico!!”. Depois de esclarecê-lo, duas coisas me ocorreram : (1) apesar de sua cultura universitária, meu amigo tinha razão em não ter levado também um dicionário para consultar na praia enquanto lia o livro e (2), o erro foi da editora, em menor escala do tradutor: não custaria nada ter chamado a atenção para essa particularidade da tradução (obra datada, significado particular do termo na Idade Média, etc) em prol dos leitores que estivessem em férias, numa praia, e sem dicionários por perto….:-)
Abração,
Hilton F. Santos
Hilton, tudo bem?
Com educação, todo mundo tem direito de manifestar sua opinião neste espaço. Seja bem-vindo!
Não concordo chamar de “erro da editora” o desconhecimento de uma das acepções de uma termo da língua portuguesa. Ter “cultura universtária” não garante sapiência plena e absoluta sobre todas as coisas.
Além disso, seu amigo não precisaria mesmo ter levado o dicionário para a praia, pois bastaria prestar atenção ao sub-título da obra, estampado na capa do livro.
Abraços
Parabéns pelo texto. Prova que você é antes de tudo ético! Traduzir uma obra literária é muito difícil, tradução, as pessoas se esquecem, que requer cultura ampla, informação e conhecimento de mundo que contam muito nas escolhas na hora da tradução.
Sabrina, tudo bem?
Obrigado pelas palavras gentis. Volte mais vezes e participe nos comentários sempre que puder.
Abraços
Edvaldo, tudo bem?
Obrigado por acompanhar o Tecla SAP há tanto tempo!
Quanto à argumentação apresentada, tenho algumas considerações a fazer. Primeiro, não vejo obrigatoriedade de se manter o português medieval na redação do livro apenas pelo fato de o título usar um termo com seu significado da época. O título de uma obra tem, é claro, o objetivo de dar uma ideia do assunto tratado, mas não podemos nos esquecer de que também tem o intuito de intrigar e despertar a curiosidade.
Segundo, você não está atentando para o subtítulo da obra: “A epopeia de um médico medieval”.
Há, por exemplo, filmes falados em língua inglesa e que mantiveram títulos em outros idiomas. Assim de cabeça, me lembro de “Quo vadis?” e “Tora! Tora! Tora!”. O primeiro não é falado em latim nem o segundo é falado em japonês. O que dizer então de filmes de época como “Gladiador” de Ridley Scott?
As obras de Shakespeare são frequentemente readaptadas, no cinema e no teatro, com novas “roupagens”, haja vista as versões cinematográficas de “Romeo + Juliet” (1996), de Baz Luhrmann e “Much ado about nothing” (2012), de Joss Whedon. Ambas são ambientadas nos dias de hoje, embora mantenham o inglês shakespeariano.
Em suma, a rigidez dos livros técnicos e científicos não se aplica ao mundo da ficção e das artes. Não há problema nenhum, a meu ver, manter-se o título do livro com uma palavra com o sentido que possuía na Idade Média e o conteúdo do livro na língua portuguesa falada nos dias de hoje.
Abraços
Muito bom, Ulisses! Eu nunca li o livro em questão e fiquei mesmo com a informação do meu professor que tinha criticado a tradução do título. Em nenhum momento, ele nos disse que o contexto do livro se passava na Idade Média, que é uma informação relevante que faz tooooooda a diferença. Obrigada por me chamar a atenção para o fato. Abração!
Andréa, como vai?
Obrigado pelo feedback simpático. Divulgue a informação para mais pessoas. Disseminar conhecimento faz bem à saúde… 😉
Abraços
Boa. Mais uma das valiosas “dicas” do Ulisses. Esclarecedora a enriquecedora de vocabulário, cultura e História, neste caso.
Fernando, tudo bem?
Obrigado pelas palavras gentis. É muito gostoso saber que tem gente interessada acompanhando o trabalho. Valeu!
Abraços
Ivan, tudo bem?
Muito obrigado por postar o link para a resenha do filme. Agradeço também a menção ao meu post. Valeu!
Abraços
Ivan,
Ótimo! Faça a resenha e depois venha postar o link aqui nos comentários. Em geral, o Tecla SAP não publica links para divulgação de trabalhos pessoais, mas terei o maior prazer em abrir uma exceção nesse caso.
Abraços
Sandra, tudo bem?
Obrigado pelo comentário e pelo interesse no Tecla SAP. Concordo plenamente quando você afirma que tradução literária é para poucos. Volte mais vezes e comente sempre que puder.
Abraços
Ulisses,
Se você não criticou os críticos, como cavalheiro cordial que é, eu critico. Não dá para alguém que tenha conhecimento suficiente para entrar numa rede social eletrônica não conhecer o “Google” e outras ferramentas de busca e gastar menos de cinco minutos para pesquisar o tema antes de criticar. Isso ocorre em todas as áreas. Critica-se políticos, artistas, pessoas em geral sem qualquer fundamento. Ora, se o cidadão criticante não tem a cultura e o conhecimento necessários para embasar a crítica, antes de a fazer deveria ir estudar. Com tanta informação e conhecimento disponível 0800 na Internet não há sequer a desculpa de que coitadinho de mim não tive acesso à educação… Dúvidas de Inglês, tecla SAP, dúvidas de empreendedorismo, cursos grátis do SEBRAE, [….], dúvidas de como fazer um pudim, dezenas de sites e blogues de culinária, dívidas de outros assuntos, outros sites e blogues. Além disso agora também temos os MOOCs, cursos gratuitos on line oferecidos pelas melhores universidades do mundo. A título de exemplo acabei de completar um sobre paleografia que foi maravilhoso, pela universidade de Colorado, com exercícios práticos e muito debate acadêmico virtual com os milhares de colegas que fizeram o curso ao mesmo tempo (quase dez mil alunos em mais de uma centena de países).
Se alguém não domina o assunto, não critique.
Há que se criticar com responsabilidade e respeito.
Paulo, tudo bem?
Obrigado pela visita e pelo comentário. Volte mais vezes.
Abraços
Fica a lição de que tradução depende de contextualização, inclusive no tempo.
Jandro, tudo bem?
Muito obrigado pelo comentário pertinente. Volte mais vezes.
Abraços
Parabéns pela matéria. Ouvi falar do livro recentemente e fiquei bem curioso por estar pesquisando as contribuições do Islã na Idade Média para o mundo. Ouvi falar também que está em produção o filme, tem esse conhecimento? Obrigado
Ivan, tudo bem?
Muito obrigado pelo comentário. Também li algo sobre o filme, mas não tenho mais informações sobre o assunto.
Abraços
Olá, Ulisses,
Como colega de pluma e de microfone, adorei seu post sobre o título da obra de Gordon. Touché!
xoxo
Domitila, tudo bem?
Obrigado pelo feedback simpático. Audiência qualificada é outra coisa… 😉
Abraços
Farlley, tudo bem?
Acho que há os dois tipos de crítica. Há quem critique com fundamentos, ou seja, são pessoas que acreditam que haveria soluções mais adequadas de tradução. Existe também aquela gritaria geral dos incautos que acham que o tradutor da obra optou por “físico” por desconhecer a acepção moderna de “physician” (médico) na língua inglesa. Esses últimos colocam o tradutor profissional no mesmo patamar de um software vagabundo de tradução. Se o meu texto pareceu ser um pito, a bronca é direcionada ao segundo grupo apenas.
Abraços