Tradução: Uma das armadilhas da consecutiva

Tempo de leitura: menos de 1 minuto

Ulisses Wehby de Carvalho

Por serem muitas as armadilhas da tradução consecutiva e como não tenho a pretensão de dar curso sobre o assunto em poucos parágrafos, vou me ater apenas a uma das dificuldades comuns que os intérpretes enfrentam. Se você não sabe o que é consecutiva, leia as descrições das diferentes “Modalidades de Interpretação” na página “Tradução Simultânea“. O texto “Simultânea ou Consecutiva?” também ajuda a esclarecer a questão.

Trabalhei ontem na inauguração de uma unidade de uma multinacional no interior de São Paulo. A primeira parte do evento seria uma coletiva de imprensa em um pequeno auditório – para a qual optei por usar a simultânea com equipamentos portáteis – e, em seguida, seria realizada a cerimônia de inauguração propriamente dita, em um pequeno palco montado no chão de fábrica. O presidente da empresa falaria em inglês para funcionários, clientes e autoridades. Como seriam poucas palavras, não faria sentido fazer simultânea, pois seria necessária a locação de mais de 300 receptores que seriam usados por poucos minutos. Por essa razão, recomendei aos organizadores a consecutiva, quando a tradução fosse de inglês para português e, na direção oposta, a simultânea de cochicho (Cf. “Tradução Simultânea de Cochicho“), pois havia só duas pessoas que não falavam nosso idioma. Aliás, essa é a solução que também adotei no programa “Tudo é Possível”, quando traduzi o Mister M. Se você ainda não clicou no link “Simultânea ou Consecutiva?“, esta é a sua última chance! 😉

Pois bem, tudo acertado para que o evento transcorresse da melhor forma possível. Depois de ser anunciado pelo mestre de cerimônias, sobe ao palco o presidente da empresa acompanhado de seu intérprete. Ele se posiciona diante do púlpito, que servia de apoio para as folhas de papel que continham seu discurso, um copo de água e, é claro, o microfone. Fico a seu lado, em pé, sem água, com um microfone sem fio, um bloco de papel e a caneta. Acho que você já está percebendo onde essa história vai parar.

Com três objetos nas mãos, não pude tomar notas do que dizia o orador e fui obrigado a confiar apenas na memória. O pior é que estou sempre alertando meus alunos para esse problema! 🙁 Mas como a consecutiva é uma modalidade cada vez menos usada nos dias de hoje, acabei me esquecendo deste pormenor. É claro que o trabalho não ficou comprometido porque eu estava preparado, conhecia a empresa e o mercado em que atua etc. e, principalmente, tinha acabado de traduzir a coletiva. Em suma, eu sabia qual o valor do investimento feito, o número de funcionários contratados, a previsão de faturamento, a área construída etc.

O que eu deveria ter feito para contornar o problema? Dividir o púlpito com o orador dando-lhe um discreto “chega pra lá”? Colocar o microfone no bolso? Lançar mão de minhas habilidades como malabarista? Nada disso. Eu deveria ter solicitado ao técnico de som a colocação de um pedestal para o microfone.  Não tem pedestal? Uma mesinha de apoio resolve e ela nem precisa ficar no palco.  Se ela for alta, trabalhe em pé; se for baixa, trabalhe sentado. Simples, não? Pois é, o clima que antecede eventos é sempre tenso e muito corrido. Até mesmo profissionais experientes acabam se deixando levar por essa agitação. Espero que esse relato tenha sido útil para quem pretende dar os primeiros passos na profissão ou até mesmo para quem, como eu, já está na estrada há mais tempo.

Abraços a todos

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Guilherme
Guilherme
13 anos atrás

Muito complicado mesmo, Ulisses.
Ainda me lembro quando fui ser intérprete de um padre em um casamento de um americano com uma brasileira em Sao Paulo. Tive que subir no altar e ficar ao lado dos noivos durante toda a cerimônia, cochichando para o noivo tudo que o padre falava e perguntava.Tive que me vestir com roupa especial e pompas e tudo o mais, pois ia subir ao altar também.Logo quando subi, cheguei ao lado do padre e não pude deixar de lembra-lo: quem vai casar é ele, eu não, hein, padre! hehehe. Foi, salvo engano, um dos mais estranhos trabalhos que ja fiz.Ainda tive que receber os cumprimentos dos convidados confusos ao final pensando que “eu” é que era o marido recém casado…foi cômico. Daí tinha que dizer: desculpe, mas é ele, eu sou só um amigo”.Deviam ter aqueles que pensavam que o padre estava casando dois homens com uma mulher, já que era americano…poderia ser Mórmon.hehe
Um abraço, Ulisses e parabéns pelo blog.
Ah e muito sucesso e paz neste ano de 2011 que desponta.

Guilherme

Samir
Samir
16 anos atrás

Ulisses,
Tudo bem?
Que situação, hein?
E você ainda teve todas as “ferramentas” em mãos. De fato, todas eram essenciais para um bom trabalho, mas não estavam organizadas de forma correta.
Grande abraço.